A docente na Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), Patrícia Lino considera que os mitos em que assenta o discurso do colonialismo português continuam a ter impacto na sociedade e precisam de ser desconstruídos.
Em “O KIT de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial”, Patrícia Lino usa o humor para expor contradições e hipocrisias na estrutura, ainda vigente, da visão do colonialismo português.
Entre as ideias que a autora pretende desconstruir pela paródia estão a visão do colonialismo português como menos violento que outros, o excecionalismo do descobridor português benigno ou a exclusividade nacional do conceito de saudade.
“A dinâmica opressiva do poder colonial, que se impõe sobre os que são diferentes, é sempre igual, não tem nada de misterioso”, referiu Patrícia Lino.
A professora considerou que o colonialismo “é a base de todos os outros poderes” e que o processo de colonização portuguesa só foi possível devido à casa patriarcal e a subjugação das mulheres.
“O processo coloniza não só o corpo da mulher indígena e negra no território das colónias, mas também o corpo da mulher portuguesa que fica no território imperial, pensando que faz parte do império e a suster as casas grandes”, afirmou. “Sem essa casa patriarcal heteronormativa, o colonialismo não existiria”.
O livro, além de estar a ser usado em várias universidades norte-americanas e europeias, foi selecionado como semi-finalista no Prémio Oceanos 2021, que distingue obras literárias provenientes de todos os países de língua portuguesa e irá revelar o vencedor em dezembro.
Muitos hão de acusar esta professora de anacronismo, pois, como ela própria diz, discutir o colonialismo implica desconstruir todo o poder onde o privilégio da elite assenta. Porém, anacronismo não é assumir os erros do passado. Anacronismo é manter esses erros no presente.
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