Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

10 de novembro de 2013

Da obediência


Este romance, com o título Ein Sonntag auf dem Lande (um domingo na província), do autor francês Pierre Bost, chamou-me a atenção num catálogo de livraria. Apesar de já ter sido escrito em 1945, só agora foi editado em língua alemã.

O velho Monsieur Ladmiral recebe, todos os domingos, na sua casa de província, a visita do filho Gonzague e da filha Irène. Gonzague vem acompanhado da mulher e dos filhos. É um homem pacato, cioso dos seus deveres, atencioso, obediente, tolerante ao ponto de se negar a si próprio e, apesar de amar o pai com grande devoção, só colhe desprezo da parte do progenitor. Irène vem, como sempre, sozinha. Não dá contas da sua vida a ninguém, tanto do ponto de vista profissional, como amoroso. É irreverente, barulhenta, atrevida e... a preferida do pai!

O romance vive da descrição destes encontros familiares, carregados de uma tensão latente. E o autor revela-nos a origem do desprezo que Monsieur Ladmiral reserva ao filho. Gonzague, no fundo, espelha o carácter do pai, um pintor com um certo sucesso, mas convencional, que, no fim da vida, se arrepende de nunca ter ousado inovar, como outros colegas que revolucionaram a pintura. O próprio descreve a sua amargura da seguinte forma: «Acreditei nos meus mestres... A verdadeira liberdade tem os seus alicerces na obediência, diziam eles... Caí na armadilha, e como!»

Para que conste!


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