Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

5 de novembro de 2013

História da Vida Privada em Portugal - A Idade Média (2)


Como é evidente, a escrita medieval é inicialmente monopólio da Igreja. Só a partir do século XII começa a ser usada também pelos príncipes e senhores, mantendo-se, no entanto, até aos finais do século XV, o controle clerical sobre toda a escrita, mesmo a que dimanava do poder político. Ora a escrita clerical dita as normas, expõe as crenças, legitima as práticas, mas não descreve a realidade. No fim do Império Romano, a Igreja, tendo alcançado uma posição de poder, combate a desordem bárbara, defende a paz social, a hierarquia e o respeito pela lei. Carlos Magno consagra o princípio de que o poder terrestre tem como objectivo final o Reino de Deus sobre a Terra. A sociedade cristã deve aproximar-se tanto quanto possível do seu modelo ideal que é a Jerusalém celeste.
Neste quadro, o que importa é a ordem pública. Imposta e mantida a estrutura social, definido o bem e o mal, faz parte da estratégia da Igreja apelar constantemente para o ideal como uma meta colectiva, mas não tanto denunciar o hiato entre o modelo e a realidade. O pecado só é denunciado quando se torna público, para evitar a sua propagação. O que se passa na vida privada deve ser secreto. Compete ao chefe de família ou da linhagem velar pelo cumprimento da norma no espaço doméstico.

Introdução (José Mattoso e Bernardo Vasconcelos e Sousa) - página 18
(destaques da minha responsabilidade)


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