A preocupação por animais maltratados e abandonados e a sua consequente ajuda, por parte de pessoas que se compadecem deles, em tempos de crise, dá azo a inúmeras críticas por parte de quem não está sensibilizado para a questão animal. Então, o ser humano não está à frente de cães e gatos? Como se podem fazer campanhas a fim de pagar tratamentos hospitalares a um cão, quando há gente a passar fome?
Por outro lado, eu pergunto: o facto de haver gente a passar fome justifica o gesto de olhar para o lado, ao depararmos com um animal em grande sofrimento? Ajudarei alguém (pessoa, ou animal) com esse gesto? Alguém, no seu perfeito juízo, acredita que, se pararmos de tentar ajudar os animais, diminuirá a fome no mundo? O mesmo se aplica à angariação de dinheiro para, por exemplo, questões culturais.
A este propósito, costumo recordar-me de algo que se passou na sequência do desmoronamento do Bloco de Leste.
Quando a Roménia se revoltou contra o ditador Nicolae Ceauşescu e sua esposa, ditando a sua execução sumária, descobriu-se, naquele país, algo que arrepiou o resto da Europa. Durante décadas, o regime comunista romeno livrou-se de seres incómodos, note-se, crianças com deficiência, depositando-as nos chamados Spital, onde ficavam fechadas, longe dos olhares dos humanos "normais", até dos seus próprios progenitores, que tinham mais que fazer do que preocupar-se com filhos "anormais"! Caído o regime, o ocidente deparou com imagens horríveis desses inocentes, que vegetavam em instituições inenarráveis, sem o mínimo de higiene, nem cuidados, num sofrimento atroz.
A barbaridade gerou, e muito bem, uma grande onda de solidariedade. Organizações como a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras canalizaram esforços e pessoal para irem tratar daquelas crianças. Os cidadãos europeus fizeram enormes donativos em dinheiro, comida, brinquedos e medicamentos.
A alguém passava pela cabeça que houvesse quem contestasse tal movimento?
Acontece que a maioria da população romena vivia na miséria e muitos desses Spital ficavam nas imediações de aldeias onde se passava fome e frio. A chegada das carrinhas da Cruz Vermelha, cheias de alimentos e outros mimos para as ditas crianças, começaram a ser alvo de ataques dos aldeões. Atiravam pedras, pondo a vida dos voluntários em risco, e davam asas à sua fúria: como podem pensar em ajudar esses anormais, enquanto nós vivemos na miséria? Não valemos nós mais do que um punhado de anormaizinhos?
O problema não são os animais que vivem como pessoas. São as pessoas que vivem como animais. |
Cada um tire as suas conclusões!
Muito bem explorado e dá bem que pensar!
ResponderEliminarObrigada, Nel.
ResponderEliminarExcelente texto, Cristina.
ResponderEliminarAgradecida, Vespinha.
ResponderEliminarOlá! Cristina. Tão certa na tua prespectiva. Infelizmente tanta pessoa vive abaixo do limiar da pobreza sem condição nenhuma e só se lembram de elas quando "fica bem" na "fotografia" e é tão triste. Amiga, desculpa ter fechado o blog da blogger sem nada dizer, mas fá-lo-ei a quem acho o devo e sem dúvida tu és uma delas. Parti um dedo da mão esquerda, escrevo claro,mas não é a mesma coisa. E aproveitei esta altura para fazer algo que já estava a pensar. Uma remodelação e quiçá fazer um novo aqui. Se me permites enviar-te-ei um mail a explicar melhor porque assim é complicado. Um beijinho e muito obrigado pela tua amizade. Pelo carinho e sem dúvida que és uma pessoa com quem não quero perder o contacto. Um grande abraço. Bom fsemana!
ResponderEliminarRain, desejo-te as melhoras, espero que o dedo sare depressa. Para quem escreve tanto como tu (incrível, não sei onde vais arranjar tanta inspiração), deve ser duplamente incomodativo.
ResponderEliminarBom fim-de-semana também para ti (dentro das possibilidades)!