A única representação de D. Mafalda que encontrei |
D. Mafalda de Sabóia (ou Matilde, ou ainda Mahaut, em fancês), a primeira rainha de Portugal, faleceu com cerca de trinta anos, a 3 de Dezembro de 1157, na sequência do parto da infanta D. Sancha.
Não se sabe bem quando nasceu, presume-se que teria de 18 a 20 anos, quando casou com D. Afonso Henriques, em 1146. Era filha do conde Amadeu III de Sabóia e de Mafalda (ou Matilde) de Albon. A família era muito devota, o pai participou em várias cruzadas e fundou muitos mosteiros, vários dos seus irmãos seguiram a vida religiosa. Mas Mafalda viu-se obrigada a partir para Portugal, uma terra de que ela talvez nunca teria ouvido falar, a fim de casar com o seu rei (sobre os motivos que levaram à escolha de D. Mafalda já aqui falei).
Este era, aliás, um destino comum para jovens da nobreza daquela época. Oficialmente, elas deviam dar o seu consentimento para a união matrimonial, a Igreja sempre fez questão de referir esse aspecto. Mas sejamos francos: quem era a jovem que se atrevia a discordar de seu pai, recusando casar com quem ele escolhera? Depois de terem passado toda a sua infância e parte da juventude a não se atreverem a contradizer os mais velhos e a nunca poderem expressar as suas preferências, não tinham meios para recusar qualquer proposta que fosse.
Esta imagem não tem nada a ver com D. Mafalda, mas gosto de a imaginar assim
D. Mafalda esteve doze anos casada com D. Afonso Henriques, deu sete filhos à luz e acabou por morrer dias depois do último parto. Dito assim, é uma história de vida bastante trágica. Teria sido feliz?
No meu romance, eu optei pelo "sim", depois de dificuldades iniciais. Uma das razões foi o facto de o número de filhos se adequar (por assim dizer) aos anos em que estiveram casados; a outra foi porque não se conhecem filhos ilegítimos do rei durante esses doze anos. A versão oficial é que D. Afonso Henriques teve dois filhos em solteiro e duas filhas depois de enviuvar.
O sucessor de D. Afonso Henriques, D. Sancho I, tinha apenas três anos, quando a mãe morreu, não se devia lembrar dela. Para não falar dos dois que nasceram depois dele. Dos sete filhos, aliás, só três chegaram à idade adulta: além do príncipe herdeiro, as duas filhas mais velhas, Urraca e Teresa.
Acabou por ser um destino bem medieval, este, da nossa primeira rainha. Infelizmente, as mulheres eram apenas meios para certos fins, não uma individualidade em si. Mesmo assim, houve quem se destacasse, como D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, que se intitulava "rainha", o que leva muitos a considerá-la a primeira rainha de Portugal. E é verdade que, depois da morte de seu pai, o imperador da Hispânia, D. Teresa não mais prestou vassalagem ao rei de Leão.
O romance que estou, neste momento, a escrever é dedicado às mulheres medievais anónimas. Já era tempo!
Vou querer ler. Aliás, este texto é muito sugestivo do muito que haverá para contar sobre elas.
ResponderEliminarBoa escrita, Cristina.
Um abraço
Folgo em saber que estás a escrever novo romance, ainda por mais, na Idade Medieval.
ResponderEliminarD. Dinis devo ler neste mês. Estou a meio de um romance e logo de seguida será o teu.
Beijinho!
Miguel
E que bem fazeis, Senhora, em assim nos dares notícias de essas outras Senhoras.
ResponderEliminarPor mor do gosto em tais notícias saber, espero pelo vosso livro, que não demore...
Simão Gamito
Adorei ler estes comentários, obrigada aos três :)
ResponderEliminarOlá, Cristina
ResponderEliminarGostei muito deste post sobre D.Mafalda, mulher de Afonso Henriques.
Tal como os outros comentadores fico a aguardar, ansiosamente, esse seu livro, precisamente por se tratar de mulheres cuja voz não se fazia ouvir. Espero que encontre, nas suas pesquisas,alguma excepção a essa regra...
Bj
Olinda
Olinda, trata-se mais de um percurso imaginado de uma mulher, em meados do século XII (em Portugal, claro).
ResponderEliminarA segunda imagem parece adequar-se mais a D. Châmoa!
ResponderEliminarEsperemos o novo livro!
Já agora, sobre a Idade Média, começou a ser editada entre nós uma obra coordenada pelo Umberto Eco. Já comprei o primeiro volume (os outros 3 ainda não saíram) mas ainda não houve tempo para ler.
Tem razão quanto à imagem, João, foi muito perspicaz ;) E, já agora, digo porque, mesmo assim, optei por ela:
ResponderEliminarTive algumas dificuldades em encontrar imagens de mulheres medievais "actuais", ou seja, fugindo a figuras antigas, do género da primeira imagem deste post, que, alegadamente, se refere a D. Mafalda. Sei que isto "cheira" a anacronismo, mas, no fundo, ao fazer um filme, ou uma peça de teatro, hoje em dia, mal se pode fugir a esse anacronismo.
Nessa minha busca das imagens, escolhi duas, que me agradaram mais e utilizei uma para a D. Châmoa, numa série de posts que escrevi sobre ela (http://andancasmedievais.blogspot.com/search/label/D.%20Ch%C3%A2moa%20Gomes) e esta para D. Mafalda, pelo simples facto de ela ter uma coroa. A imagem mostra realmente uma mulher orgulhosa e segura de si, diferente da D. Mafalda do meu romance. Mas, enfim, uma rainha também terá tido os seus momentos, digamos, de glória ;)
P.S. A alegada imagem "original" de D. Mafalda pode estar longe de corresponder à verdade, pode mesmo ter sido desenhada numa época posterior.
Olá, Cristina!
ResponderEliminarQue bom saber desse novo romance, principalmente sendo passado numa época histórica tão fascinante...
Beijinhos e boa escrita! :)
Obrigada, Carla :)
ResponderEliminaresta rainha fascina me, eu adoro historia, existe pessoas q sao viciadas em alcool e drogas e eu sou em historia, esta rainha tem uma grande influencia na minha cidade, marco de canaveses . e eu marcoense de gema e com mt orgulho, acho que esta rainha deve ser mt mais difundida do que é,
ResponderEliminarobrigado diz qual foi a rainha de portugal foi a mafalda
ResponderEliminarExatamente, tomas! D. Mafalda foi a única esposa de D. Afonso Henriques, por isso, a única com direito a usar o título de rainha.
ResponderEliminarola cristina adorei ler isto é maravilhoso e ajuddou me a fazer o meu trabalho sobre d,Afonso henriques e d.Mafalda de saboia para a escola
ResponderEliminarbjs obrigada
Eu é que agradeço. Fico muito feliz por ter ajudado.
ResponderEliminarBjs
A Cristina Torrão, do que escreve, tem provas que evidenciem o que escreve ?
ResponderEliminarFala com uma certeza absoluta no que escreve, como se tivesse vivido na época !
João Felgar
João Felgar, obrigada pelo seu comentário.
ResponderEliminarNão sei se se refere a este post, ou aos meus livros. No primeiro caso, se atentar às palavras que emprego, verifica que não falo com certeza absoluta. No segundo caso, não escrevo livros históricos, mas sim ficção