Este romance está escrito de forma pouco usual: capítulos
muito curtos (média de duas a três páginas), que funcionam como episódios,
recortes da vida de sete adolescentes. Esta forma de escrita facilita a
leitura, também por não se deter excessivamente em pormenores descritivos.
Através dos sete adolescentes, são abordados vários
temas da sociedade atual, incluindo os problemas de uma família migrante na
Europa. Não é definido o país em que vivem, nem de onde vem a família. O que
está aqui em causa é a cultura europeia e a dificuldade de integração de gente
que, pelo seu aspeto físico, não deixa margem para dúvidas quanto à sua origem.
Os sete jovens frequentam o liceu e uma grande amizade
parece uni-los, numa solidariedade própria da fase, uma ajuda no enfrentar das
dificuldades e dos medos na passagem à idade adulta. No entanto, o leitor apercebe-se
de que uma ameaça paira sobre a sua amizade. Como diz o texto da contracapa,
«as acções das personagens (…) são condicionadas pelos pensamentos, palavras,
actos e omissões umas das outras». De facto, por trás das aparências, há
bastante falta de comunicação e de interesse pelos sentimentos uns dos outros, uma amizade superficial que funciona nos tempos de liceu, mas que acaba por
sucumbir, quando as personagens mudam de vida, cumprindo-se inclusive a ameaça
que sempre pairou no ar.
Esta falta de interesse pelo que realmente move as pessoas também se aplica à relação entre pais e filhos, verificando-se igualmente falta de comunicação, preferindo os pais ocuparem-se com os seus próprios problemas e frustrações.
Esta falta de interesse pelo que realmente move as pessoas também se aplica à relação entre pais e filhos, verificando-se igualmente falta de comunicação, preferindo os pais ocuparem-se com os seus próprios problemas e frustrações.
Tiago Patrício, nascido em 1979, já deu provas do seu
talento. Venceu, entre outros, o Prémio Jovens Escritores em 2007, o Prémio
Agustina Bessa-Luís em ficção, com o romance Trás-os-Montes, e foi selecionado para várias residências
literárias. Penso, no entanto, que este romance tem um problema: a quantidade
de personagens principais torna difícil ao leitor construir um perfil de cada uma delas, apesar de o autor tentar facilitar essa tarefa com o método dos
capítulos curtos. Mas há apenas espaço para dar alguma profundidade a três
personagens e o leitor acaba por ter dificuldade em avaliar as outras
que, depois de uma grande ausência, tornam a entrar no enredo.