Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

31 de maio de 2014

Excertos # 1



Decidir a própria morte era um dos pecados mais terríveis, retirava o direito a funeral e a uma campa na terra sagrada do cemitério. Naquele momento, porém, surgia-lhe como solução para o desespero insuportável, o que lhe conferiu um certo alívio, e de tão exausta, acabou por adormecer.

Sonhou que se atirava ao Arda. Via-se a deixar este mundo, entrando noutro, que a deixava imune ao sofrimento.

Acordou, de repente, sem saber se dormira horas ou se apenas passara pelo sono. E o desassossego regressou com tal intensidade, que não conseguiu permanecer deitada. Um impulso irresistível guiou-a porta fora, descalça, envolta na sua camisa de dormir, o cabelo pelas costas. Pôs-se a caminho do rio, descendo a encosta íngreme, por entre os castanheiros e os carvalhos.

Estava um dia lindo de maio, os fenos despontavam num verde ainda tenro. Mas Jacinta caminhava sem se dar conta do brilho do sol e do chilrear dos pássaros. Movia-se alheia a tudo, como se vivesse já num outro mundo, em direção a um dos raros bancos de areia, no curso do Arda, onde ela e as irmãs costumavam ir lavar roupa.



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