Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

26 de novembro de 2018

Contos do Portugal Profundo - e uma história brasileira (3)



«Conheci a Amélia na igreja matriz, numa ocasião em que aguardava vez para me ajoelhar no confessionário, onde o padre, oculto por detrás do biombo, ouvia os desabafos e mandava varrer os pecados com rezas e penitências. Amélia, nessa altura uma serva do Senhor anónima, sentou-se a meu lado, recatadamente, aproveitando o lugar desocupado por uma velhinha que cheirava a alho, talvez para afugentar o Diabo. Cansado de olhar o crucifixo, desviei o olhar para a direita. Amélia dirigiu o seu olhar para a esquerda, trocou o Cristo por mim. Reparei que era uma jovem da minha idade, com rosto angélico quase escondido por um lenço azul-escuro. Parecia a Imaculada. Um espasmo repentino encostou a minha mão à dela, pousada no banco de madeira como uma pombinha branca. Um êxtase místico vibrou-me todo, como se estivesse de mão dada com o Espírito Santo. Uma descarga elétrica uniu ambas as mãos, os dedos entrelaçaram-se, falaram com eloquência muda, e então eu e Amélia compreendemos que o amor ao primeiro contacto de mãos era uma bênção de Deus, querendo unir dois santinhos que mereciam a felicidade eterna».

In "Este Caso Não o Contarei Ao Custódio", de António Breda Carvalho, conto incluído na coletânea Portugal Profundo.

Os Contos do Portugal Profundo reúnem nove escritores que se conheceram no blogue Horas Extraordinárias, sendo um deles a anfitriã Maria do Rosário Pedreira, e está à venda na Amazon:

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