Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

8 de novembro de 2018

A Tempestade do IVA

A recusa da Ministra da Cultura em não baixar o IVA das touradas gerou uma tempestade num copo de água. Já estamos habituados a que os defensores deste tipo de espetáculo adotem comportamentos próprios dos populistas, ou seja, em vez de argumentarem, fogem ao assunto, refugiando-se em afirmações e comparações absurdas e/ou ridículas. O pior é quando pessoas que nos habituámos a respeitar adotam também esse tipo de comportamentos. Muito me surpreenderam as palavras de Miguel Sousa Tavares, na sua qualidade de comentador da TVI, uma pessoa que, apesar de ter uma visão diferente da minha, sempre considerei inteligente.

Disse ele que o «deputado do PAN aterroriza mais do que um touro» e, pelos vistos, acha revoltante que um único deputado faça a diferença no Parlamento. Sinceramente, não entendo onde está aqui o problema. Houvesse mais deputados a fazerem a diferença! A maior parte está lá a fazer sala, seria bom que houvesse muitos mais a lutar apaixonada e empenhadamente pelas suas causas, sejam elas quais forem! E o homem afinal aterroriza quem? Criancinhas? Políticos? Comentadores televisivos? Se o Miguel Sousa Tavares tem medo dele, talvez fosse bom questionar-se porquê.

Diz ainda o conhecido comentador que não compreende que uma maioria imponha algo a uma minoria por uma questão de gosto. Em primeiro lugar, fico satisfeita por ele reconhecer que a maioria é contra as touradas. Não se trata, porém, de uma questão de gosto, uma redução que os aficionados gostam de praticar, a fim de menorizar o problema. Os opositores às touradas lutam contra um espetáculo de tortura de animais. Não é uma questão de gosto, é uma questão de ética. Eu até posso aceitar que se matem animais para a nossa alimentação, mas não aceito que sejam mal tratados, muito menos, que sejam torturados para gáudio de uma multidão ávida de ver correr o sangue. É a ética que está em causa, não um gosto pessoal.

Miguel Sousa Tavares ironizou com o facto de as touradas serem transmitidas a horas tardias. Não é por impressionar as crianças, diz ele, é com medo de que as crianças se encantem com tão lindo espetáculo equestre! E então não é possível assistir a uma exibição desse tipo, sem aturar sadismo? Na Alemanha, as crianças e os jovens adoram espetáculos equestres, principalmente, as meninas. Na província alemã, há inúmeras quintas onde se pode aprender a montar e que são frequentadas por uma multidão de raparigas, desde os cinco ou seis anos, miúdas que adoram cavalos e póneis. O CHIO em Aachen (Aix-la-Chapelle, em francês) é um show equestre anual esperado com muita ansiedade, um acontecimento que atrai não apenas famílias alemãs, também muitas estrangeiras, e onde se pode assistir a magníficas exibições, sem o espetáculo degradante da tortura.

Termino com a afirmação mais absurda que ouvi nos últimos tempos: é assim (proibindo as touradas) que nascem os Bolsonaros! Isto é típico de populistas, é uma afirmação bombástica, bem característica de quem não tem argumentos. Trump e o próprio Bolsonaro ficariam orgulhosos de Miguel Sousa Tavares. O que mais me entristece é que esta afirmação nem é dele, mas de uma outra pessoa, que muito admiro: Manuel Alegre! E o mais irónico, no meio disto tudo, é que a maior parte dos aficionados e toureiros portugueses são realmente grandes admiradores de Trump e Bolsonaro!

Pois é, os Bolsonaros estão do outro lado, meus senhores, do vosso! É no que dá adotarem discursos indignos de vós! Defendam as vossas causas, mas defendam-nas com decência, com inteligência, com argumentos, com pés e cabeça!


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