Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

3 de outubro de 2022

The Mothers

 


Fiquei curiosa quanto a este livro, depois de ler uma recensão numa publicação alemã. Não existe versão em português, apesar de haver um livro da mesma autora traduzido na nossa língua por Tânia Ganho: A Outra Metade. Brit Bennet é-nos apresentada como uma das grandes novas vozes da literatura americana, herdeira de James Baldwin e Toni Morrison. Estou tentada a concordar, embora confesse nunca ter lido o autor e a autora que servem de referência. Mas gostei muito de The Mothers.

O cenário é a Califórnia contemporânea, a personagem principal chama-se Nadia Turner, uma jovem bonita, de dezassete anos. Nadia sofre com o suicídio recente da mãe, mas está decidida a romper a tradição das mulheres da sua condição: negra, da classe média-baixa. Não quer casar cedo e, sendo boa aluna, batalha para conseguir uma bolsa, a fim de tirar um curso universitário.

Nadia atinge o seu objetivo, mas sacrifica algo na sua vida. E não se trata apenas de deixar o pai sozinho, ao ter de partir para longe (o que também lhe custa). Ela guarda um segredo, algo que aconteceu ao envolver-se com o filho do pastor da igreja presbiteriana local. O curto caso amoroso, que os dois decidem calar e esquecer, acaba por ter consequências que marcarão a sua vida nos dez anos seguintes.

Brit Bennet começa de mansinho, mas o enredo adensa-se, à medida que avança. A vida das três personagens que acompanhamos desde a adolescência até ao início da vida adulta complica-se cada vez mais. A autora aborda de forma subtil assuntos como o racismo encoberto pela normalidade, mostrando o vazio de vidas destinadas a serem de 2ª classe. Mas há também outros dilemas, como o eterno problema do aborto, aqui, em confronto com a situação de quem quer engravidar sem o conseguir. E também tudo aquilo de que prescindimos, numa certa fase da vida, em detrimento de objetivos que consideramos mais altos.

Pode-se realmente ser mais feliz com um diploma universitário na mão? Compensa deixar o lar para se ir conhecer mundo e alargar as nossas experiências?

Um livro que vale a pena ler. E A Outra Metade parece ser igualmente interessante.

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