Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

8 de abril de 2025

Um ano com D. Dinis (19)

 NASCIMENTO DE D. PEDRO I E CERCO A PORTALEGRE

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Representação do Rei Pedro I de Portugal na Sala dos Reis, Quinta da Regaleira, Sintra

https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=62092638

Faz hoje 705 anos que nasceu D. Pedro I. Como todos sabemos, este rei ficou sobretudo conhecido pelo seu trágico amor por Inês de Castro.

D. Pedro I era neto de D. Dinis e de D. Isabel, filho de D. Afonso IV. Nasceu numa época complicada, em plena guerra civil, que opunha o seu avô ao seu pai.

Inês de Castro viria a ser assassinada no Paço mandado construir pela rainha Santa Isabel, junto ao mosteiro de Santa Clara, em Coimbra.

 

Nota: Encontrei datas diferentes (18 e 19 de abril) para o nascimento de D. Pedro I, na internet. A data de 8 de abril de 1320 é, contudo, apontada pela Dra. Cristina Pimenta, autora da biografia de D. Pedro I (Temas e Debates 2007). Também o Professor Bernardo Vasconcelos e Sousa, autor da biografia de D. Afonso IV (pai de D. Pedro) e o Profesor Sotto Mayor Pizarro, autor da biografia de D. Dinis (avô de D. Pedro) apontam esta mesma data.

 

Também a 8 de abril, mas em 1299, D. Dinis fez o seu primeiro testamento, antes de partir para uma campanha contra o irmão (o rei contava trinta e sete anos). O infante D. Afonso revoltava-se pela terceira vez. D. Dinis montou cerco a Portalegre, a 27 de abril. O irmão resistiu mais tempo do que o esperado e o rei solicitou a intervenção da infanta D. Branca, a irmã de ambos.

Depois de a infanta ter conferenciado com o irmão mais novo, trouxe informações incomodativas.

- Afonso anda mui estranho - anunciou Branca a Dinis. - Acha-se com mais direito ao trono do que vós.

Com dificuldades em controlar a sua fúria, o rei remeteu-se ao silêncio. E foi Frei Vasco Fernandes quem inquiriu:

- Em que se baseia D. Afonso para afirmar tal?

Depois de uma hesitação, Branca acabou por responder:

- Baseia-se no facto de o matrimónio de meus pais só haver sido reconhecido pela Igreja em Junho de 1263.

Gerou-se um silêncio embaraçante, perante o abordar de um assunto julgado esquecido. À altura do seu matrimónio com D. Beatriz, Afonso III havia sido acusado de bigamia pelo papa Alexandre IV. O rei estava ainda casado com Matilde de Boulogne, apesar de o casal já viver separado há quase uma década.

Seguiram-se cinco anos de contendas graves com a cúria pontifícia. O problema acabou por se resolver com a morte inesperada de Matilde, mas só passada mais meia década, Urbano IV legitimara o segundo consórcio do monarca.

- Afonso nasceu em Fevereiro de 1263 - prosseguiu Branca, - escassos quatro meses antes de o papa passar a bula de legitimação. Essa é a razão por ele dada para se considerar, digamos, mais legítimo do que o irmão rei.

Dinis tinha ganas de ir arrancar o estouvado do irmão ao castelo de Portalegre, a fim de lhe dar uma valente sova.

O infante D. Afonso só se renderia em outubro, logo partindo para o reino de Múrcia, onde possuía senhorios, por parte da esposa.

 

Nota: Apesar de se tratar de um excerto do meu romance (obra de ficção), na sua biografia de D. Dinis, o Professor Sotto Mayor Pizarro refere o infante D. Afonso ter realmente usado este argumento para se considerar com mais direito ao trono do que o irmão mais velho.

 

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