COGNOME "O LAVRADOR"
O pinhal de Leiria serve muitas vezes como justificação para o cognome de D. Dinis. Soa, porém, desadequado denominar um rei de Lavrador por ter mandado plantar um pinhal. Melhor seria referir D. Dinis ter fomentado a agricultura em todas as suas vertentes. Além disso, pensa-se, hoje, que terá mandado plantar mais pinhais.
O desflorestamento era já um problema, na Idade Média, devido ao consumo exorbitante de madeira. O pinheiro bravo cresce depressa e D. Dinis terá apostado nesta espécie, a fim de dar resposta ao consumo dessa vital matéria-prima.
© Luís Nuno, imagem baseada na recriação facial de D. Dinis
A este pretexto, um excerto do meu romance, referindo o fomento da agricultura e a problemática da desflorestação:
Urgia criar novos espaços agrícolas. Excetuando os vales férteis do norte do reino, os solos de argila arenosa não eram muito produtivos e a maior parte deles encontrava-se esgotada, ao mesmo tempo que a população crescia. Havia que aproveitar terrenos até ali insalubres, não só para produção de pão, vinho e azeite, mas também para o cultivo de leguminosas e fruta e o ganho de linho, burel e estopa.
Dinis aprendera com o pai a fomentar a agricultura e celebrava contratos minuciosos com os agricultores dos reguengos, chegando ao ponto de, no caso da vinha, neles mencionar a conveniente adubação, ou a renovação das cepas mortas por meio da mergulhia ou do plantio de novas vides, passando pela escava, cava, sacha, poda e empa.
Frei Martinho de Alcobaça explicava ao seu soberano como se fariam as abertas e quais as culturas que melhor se dariam no Paul de Ulmar. Assim que a drenagem estivesse concluída, Dinis distribuiria as terras, formando grupos de casais ou aldeamentos, cujos moradores seriam foreiros, ou seja, pagariam o foro à Coroa, normalmente, um quarto da sua produção.
Próximo da praia, apontando para as vastas dunas, o cisterciense declarou:
- As ventanias vindas do mar arrastam a areia para o interior, acabando por cobrir as terras aráveis. - Apontou para uma zona de floresta de pinheiro manso e acrescentou: - As árvores protegem os campos, mas são cada vez menos.
Dinis estava a par do problema da desertificação das florestas. A madeira era necessária à construção de travejamentos, tetos e soalhos, para não falar dos móveis e utensílios domésticos. Além disso, servia para construir estábulos, adegas, espigueiros, moinhos e aprestos agrícolas, desde forquilhas, ao carro e ao arado. A madeira era ainda o principal combustível. Sem lenha, não havia pão, alimentos cozinhados, nem um mínimo de conforto no Inverno. Dela se fazia igualmente estacaria para amparar culturas ou levantar vedações e se ganhavam fertilizantes, quer através de folhagens apodrecidas, quer de cinzas, estas servindo ainda para produzir sabão.
Como conciliar tão grande consumo com a desflorestação?
Frei Martinho acrescentou:
- O pinheiro bravo ainda se desenvolve mais rápido do que o manso, além de dar muito pez e resina. E com as agulhas, que se conservam muito tempo sem apodrecer, também se faz bom lume.
- Tomarei providências para que seja aumentada esta área florestal, substituindo o pinheiro manso pelo bravo, a fim de não só abastecer as populações de madeira, mas também evitar que a areia cubra as terras aráveis. Um procedimento que poderá aliás ser usado noutras zonas costeiras.
Excelente, Cristina.
ResponderEliminarGostei muito de ler tudo o que nos diz
sobre o rei D.Diniz.
Abraço
Olinda
Muito obrigada, Olinda.
EliminarUm beijinho para si.