A MÃE DE D. DINIS
Imagem Codex Manesse
Em julho de 1242 (não se sabe o dia), nasceu D. Beatriz de Castela, futura rainha de Portugal. Era filha ilegítima de D. Afonso X o Sábio, fruto de uma ligação de juventude com D Maior Gusmão. D. Beatriz tinha apenas onze anos, quando casou com D. Afonso III, em maio de 1253.
Ao tempo da coroação de D. Dinis, houve divergências graves entre ele e sua mãe. Tendo o jovem rei apenas dezassete anos, o falecido D. Afonso III determinara a criação de um conselho de regência, a fim de auxiliar o filho nos primeiros tempos. Além da própria D. Beatriz, que chefiava esse conselho, dele faziam parte o mordomo-mor D. João Peres de Aboim e o chanceler D. Estêvão Anes, ambos amigos de infância do falecido rei e envolvidos no governo do reino, desde que D. Afonso III subira ao poder.
Ninguém tinha, porém, contado com a hipótese de o jovem D. Dinis não apreciar ser controlado por um conselho de regência. Passado cerca de um mês do falecimento do pai, aboliu-o e destituiu D. João Peres de Aboim e D. Estêvão Anes das suas funções, nomeando mordomo-mor e chanceler próprios. Repudiou igualmente a ingerência de sua mãe no seu governo.
D. Dinis revelava, com apenas dezassete anos, possuir poder de resolução e vontade de caminhar pelo próprio pé. Todos sabemos que não se saiu mal. Porém, o afastamento tão rápido de figuras que, naquele tempo, eram verdadeiras instituições, não caiu bem a toda a gente. Muito menos a sua mãe, ela própria repudiada. D. Beatriz acabou mesmo por se afastar da corte portuguesa, indo para Sevilha e levando com ela as filhas, as infantas D. Branca e D. Sancha.
Assim assistiram elas o pai e avô, D. Afonso X, que se quedava doente e amargurado. Outrora um rei poderoso, admirado em toda a Cristandade e ainda hoje considerado um dos melhores e mais cultos monarcas ibéricos da época medieval, caíra em desgraça, por desavenças com o seu herdeiro e grande parte da nobreza castelhana. Afonso X acabou deposto, passando o seu exílio de cinco anos em Sevilha. Valeu-lhe precisamente essa filha e as netas portuguesas.
D. Beatriz haveria igualmente de acusar o filho D. Dinis de não ter apoiado o avô, nesses seus anos difíceis. O Lavrador manteve-se um rei prático, apoiando o sucessor, seu tio Sancho IV, com quem estabeleceu relações amigáveis. A atitude não deixa de revelar uma certa frieza, que se costuma perdoar num homem de Estado, mas que nos deixa pensativos quanto à sua indiferença em relação ao sofrimento de membros familiares próximos.
A situação adquire um tom ainda mais amargo, ao constatarmos ter sido D. Dinis beneficiado com ela. E também o reino. Agradecido pela assistência da filha, Afonso X deixou-lhe em testamento as vilas de Moura, Serpa, Noudar e Mourão. Assim acabaram estas localidades por serem incluídas em Portugal.
Depois da morte de D. Afonso X e do regresso da rainha-mãe de Portugal à corte lisboeta, criei esta cena, entre mãe e filho, no meu romance:
Dinis quis saber:
- As vilas de Moura, Serpa, Noudar e Mourão continuam em vosso poder, não é verdade?
- Sim, com todos os seus termos, castelos, rendas e direitos. Foi essa a recompensa de vosso avô, por eu lhe haver prestado assistência.
- Presumo então nada terdes contra o facto de integrá-las no reino de Portugal.
Beatriz fixou-o pensativa e, assim pareceu a Dinis, um pouco acusadora. Na verdade, o rei receava que ela dissesse ele não merecer tal, por ter abandonado o avô. Mas ela acabou por retorquir:
- Longe de mim contrariar vosso pai nessa questão.
- Meu pai?!
- Fosse ele vivo, não tenho a menor dúvida de qual seria a sua vontade.
Uma vitória para Dinis, mas de sabor amargo. Sua mãe concordava em alargar a fronteira portuguesa para leste do Guadiana, mas, pelos vistos, não porque ele merecesse, ou por ela lhe querer dar esse gosto.
D. Beatriz faleceu a 7 de agosto de 1300 e foi sepultada em Alcobaça, onde já repousava o marido. Detinha senhorios que foram transferidos para a nora D. Isabel.
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