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Não é segredo nenhum que em Portugal se lê pouco. Comparando
o mercado livreiro do nosso país com o alemão, parece-me que se poderia obter
melhores resultados, considerando dois pontos muito importantes:
1 – Os livros em
Portugal são caros demais! Não está em causa o valor inestimável de uma boa
obra literária, mas, querendo vender mais, seria bom alterar a estratégia. Os
livros, na Alemanha, são mais baratos e os salários, em média, três vezes
superiores aos portugueses! Não admira que os alemães sejam mais espontâneos na
hora de adquirirem um livro. Na Alemanha, há basicamente duas versões de
livros: capa dura e edições de bolso (Taschenbuch).
Diga-se de passagem que os Taschenbücher
são de muito melhor qualidade do que as edições portuguesas correspondentes. O
seu preço varia entre os 10 e os 14 € (conforme a quantidade de páginas). A
grande maioria dos livros é editada sob a forma de Taschenbuch, pelo que se podem comprar as novidades e as grandes
obras literárias por aqueles preços convidativos. Nunca nenhum escritor se
queixou (e não me consta que os escritores portugueses tenham algo contra o
serem editados na Alemanha). Obras que se sabe de antemão que vendem bem, têm,
por vezes, uma primeira edição de capa dura e aí o seu preço varia entre os 20
e os 40 €. Mais cedo ou mais tarde, surge a edição de bolso, normalmente,
quando a outra deixa de vender. Em Portugal, os livros são, digamos, híbridos – nem capa
dura, nem de bolso. A qualidade é boa, sim, mas os preços iniciam-se pelos 18
€. Definitivamente, caros demais!
2 – Os livros em
Portugal são difíceis de adquirir! Sim, na Alemanha também se editam livros
sem fim, limitando o tempo de exposição nas livrarias. Mas há algo muito
importante: pode-se adquirir qualquer livro, em qualquer altura, em qualquer
livraria (mesmo na mais remota província). Não o tendo em stock, o livreiro garante-o no prazo máximo de três dias (muitas
vezes, de um dia para o outro), independentemente de ser uma edição conhecida e/ou premiada, um auto-publicado, um
print on demand, um livro antigo, ou
mesmo um livro do qual o livreiro nunca ouviu falar. Uma simples consulta ao
computador diz-lhe se o livro se encontra disponível; com um simples clique,
o livro fica encomendado. Em Portugal, dizem-nos que o livro está esgotado,
quando ele, muitas vezes, apodrece num qualquer depósito do distribuidor! É uma
falta de respeito pelos clientes e (talvez ainda mais) pelos escritores. Por isso, o meu apelo: se o sistema não compensa que se façam
encomendas de um simples livro, modifique-se o sistema!
10 euros? Puxa, aqui por esse preço nem se consegue comprar um livro de bolso...Livros de capa dura são quase sempre acima dos vinte, trinta e ás vezes mesmo não sendo. A qualidade é um bocado duvidosa especialmente ao nível da tradução...Isso quando não editam uma saga em cinco volumes em vez de três e coisas do género. Vou-me safando comprando em segunda mão...
ResponderEliminar(vi agora esses livros de bolso alemães no google...têm bom aspecto)
Cristina este tema de "negócio" de facto bem inclinada a controvérsia e valores.
ResponderEliminarEntão o que vai ser:
Ecologia e sustentabilidade? (com relação a reflorestamento)
Superficialidade de títulos? (com relação a tendência vulgar e celebridade)
Má remuneração no setor editorial? (sem contexto a ilusão da palavra)
Círculo viciado ou, ou, etc,.
Vai lá, que basta de tanta vergonha.
Sara, a esmagadora maioria dos livros na Alemanha é publicada em edição de bolso, raramente se paga mais de 12/14 euros por um livro. Claro, quem quiser algo de especial, compra os de capa dura. E também há aqueles que estão entre os dois, normalmente, com poesia e/ou ilustrações.
ResponderEliminarCláudia, reconheço que o problema ecológico deve ser discutido, embora não me tenha pronunciado sobre ele. Não tenho dados que mo permitam. Quanto à remuneração no setor editorial, também não posso dizer muito. Mas também esses salários são superiores na Alemanha (pelo menos, em relação a Portugal), o que me leva a concluir que não estão propriamente dependentes do preço dos livros.
Bom dia, Cristina Torrão!
ResponderEliminarSó para dizer o seguinte: tenho alguns livros de capa dura, mesmo dura, bonitas capas, alguns com ilustrações de folha inteira por artistas internacionais - vide Lusco-Fusco, breviário dos mundos elementares com ilustrações de Pierre Pratt e outros livros publicados por Sextante / Porto Editora. Por exemplo, o meu livro Nocturno, capa dura, custa 14 euros. Lusco-Fusco, custa 15 euros e por aí fora. Por exemplo, o meu livro O Gato de Uppsala, capa dura, ilustrado por Danuta Wojciechowska, custa 14 euros. Também existe em capa mole e é mais barato.
Enfim, não vale a pena estar a dar exemplos, facilmente, comprováveis. Basta consultar a net. E quando não há nas livrarias, é uma questão de encomendar. Levam, normalmente 2 a 3 dias a chegar.
Esta é a realidade.
Cristina Carvalho
Esqueci-me de responder, dar a minha opinião, quanto à distribuição:
ResponderEliminaro meu mais recente livro Quatro Cantos do Mundo publicado em Maio deste ano por Planeta Manuscrito Portugal está em 420 postos de venda,no continente e ilhas, desde supermercados a bombas de gasolina, livrarias, tabacarias, etc.
E como eu, muitos outros.
Não depende só das distribuidoras. As distribuidoras trabalham para as editoras, portanto...
Mais diria. Fica para outra vez.
Cristina Carvalho
Olá
ResponderEliminarConcordo (no geral, como opost é escrito. Todos sabemos que há excepções)
A minha "luta" passa muito pelos ebooks. Bem tento fugir da pirataria mas a verdade é que as edições de ebooks são (ainda) raras e caras (apesar do IVA superior não reflectem a poupança na distribuição nem na ausencia de custos de impressão).
Também era uma solução para os livros que simplesmente passaram do "limite de vida" imposto quer por leitores quer por editores.
Mas continuo, como todos os leitores, a adorar as versões físicas dos livros e aí concordo: são (na sua maioria) caros apesar de achar que mais vale comprar 1 que quero mesmo ler já do que 5 que vão viver para a estante à espera de melhores dias que acabam por não chegar.
E tenho muitas saudades de livros de capa dura. Eu adoraria comprar o ebook a preço baixo e depois comprar edições em capa dura (mesmo que um bocado mais caras) dos livros que realmente quero ter na estante.
Boas leituras
Patrícia
Olá Cristina Carvalho!
ResponderEliminarA Cristina deu apenas o seu exemplo e a Cristina é uma exceção, com vários livros no PNL. O mérito é todo seu, conquistou um estatuto invejável, pelo que lhe dou os parabéns. Mas, repito, é uma exceção. O que eu relatei também é a realidade! É do conhecimento geral que alguns livreiros dão livros por esgotados, normalmente, livros que não vendem muito. Têm a livraria cheia de novidades, para quê ir atrás de um livro que quase ninguém conhece, só porque alguém entrou na livraria e resolveu pedi-lo? Esse alguém não é visto como cliente, mas como fator de distúrbio. Em Portugal, há negócios que não correm bem, porque os clientes são confundidos com elementos que quebram o sossego. Esta realidade é conhecida por muita gente.
Além disso, sei que a Crisitna escreve, na sua maioria, livros infantis e juvenis e eu realmente esqueci-me de os referir no post. Muitos desses livros são editados com capa dura e são realmente mais baratos.
Já comprei e procurei muitos livros em Portugal e na Alemanha, estou bem a par das diferenças (tanto no preço, como nas dificuldades com que me defronto, ou não, para os adquirir).
Resta-me agradecer o seu testemunho, gostei de a ver por aqui, e desejo-lhe a continuação do sucesso!
Olá, Patrícia!
ResponderEliminarSim, essa questão dos ebooks também tem que se lhe diga. Por exemplo, não sei porque é que a Coolbooks usa um formato que só dá para ler nos dispositivos da Wook. Eu quis comprar o ebook de uma escritora minha conhecida e não pude por ter um leitor Sony, que não é compatível. Eu sei que a Amazon também faz isso, mas a Amazon pode dar-se a esse luxo, por razões óbvias. Acho que os livros da Coolbooks teriam mais saída se não fosse esse requisito.
Boas leituras :)
Pois é Cristina, a mim aconteceu o mesmo. Gostava de ler os livros do Paulo Morais e da Carla Soares e também não posso pois o formato tb não é compatível com o meu ereader. Isto é especialmente grave (e reconheçamos, um bocado estúpido) porque não há livro físico.
ResponderEliminarEnfim, resta-nos denunciar (eu passo a vida a falar disto no meu blog e nas redes sociais) talvez, se formos muitos, as coisas mudem um dia.
:)
Era mesmo a Carla Soares que eu queria ler ;)
ResponderEliminarOlá Cristina Torrão e boa noite!
ResponderEliminarSó quero esclarecer uma situação! Eu só escrevo romances, sendo que alguns deles estão no PNL porque foram classificados "para todos". Nunca escrevi um livro infantil. Dos meus 13 livros publicados, 6 estão no PNL para o 3º ciclo, para o ensino secundário e para a formação de adultos. MAs o "grosso" - digamos assim - dos meus livros são para adultos e bem adultos.
O facto de alguns desses romances terem capa dura, foi decisão do editor e não porque fossem livros destinados a crianças. Bem pelo contrário.
Estes esclarecimentos são devidos, porque, às vezes cria-se uma imagem que não corresponde à realidade.
Quanto ao panorama das livrarias, conheço o assunto por dentro, mas isso fica para outra ocasião.
Beijo e obrigada!
Cristina Carvalho
O meu boa noite Cristina Carvalho a oportunidade um abraço tamanho do Brasil a vos!
ResponderEliminarGosto muito do modo a expressar-se e digo mais, Cristina Carvalho explora temas de interesse (domína-os) e, com tantos livros publicados surpreenda-me com agradável notícia a tê-los cá, farei minha parte à buscá-lo e lê-lo.
Boa tarde, Cristina Carvalho!
ResponderEliminarMais uma vez, obrigada pelos esclarecimentos. Acho que confundi a sua atividade, porque vai muito a escolas e já a vi em fotografias no FB com alunos dessas escolas que não me pareceram adultos.
Já agora, queria ressalvar um aspeto. Muitos dos seus romances têm menos de 200 páginas. Não que ache que uma obra literária se meça pelo número de páginas, longe disso, mas penso que seriam mais baratos na Alemanha (na edição Taschenbuch, claro). Em Portugal, romances com 250, 300 ou mais páginas vão logo para os 17, 18, 20 ou mais euros. Na Alemanha, encontramos livros desses por 14 (por vezes, são as mesmas obras).
O que eu quero dizer é o seguinte: a Alemanha, um país onde as pessoas têm muito mais poder de compra, proprociona aos seus cidadãos edições de qualidade e baratas. Mas mesmo que os livros fossem exatamente ao mesmo preço, os alemães poderiam comprar melhor e talvez isso contribua para uma maior adesão à literatura. É só isso que eu quero dizer, nem mais nem menos.
"proporciona"
ResponderEliminarOlá Cristina e boa tarde!
ResponderEliminarSim! Desde há 5 anos que faço sessões, sempre a convite, em escolas de todo o país continental e ilhas. Também tenho feito sessões por essa Europa fora, desde o King's College à Univ. de Estocolmo e mais países que não vale a pena estar agora a mencionar. Sempre convidada por esses estabelecimentos de ensino ou pelo Inst. Camões. Precisamente porque alguns dos meus livros - romances - que estão no PNL são muito requisitados pelas escolas. Portanto, viu-me e continuará a ver-me em fotografias nas escolas com alunos a partir do 8º ano e até à formação de adultos.
Quanto ao número de páginas dos meus livros, faço sempre o possível para que nunca ultrapassem as 180 páginas. Pessoalmente, não gosto de livros grandes. O maior que escrevi tem 312 páginas. Por isso mesmo não o quero publicar.
Manias!
Quanto à Alemanha, sim, os bens de primeira necessidade, incluindo os livros em bens de primeira necessidade que não é mas devia ser, é tudo muito mais acessível do que aqui em Portugal. Estive aí em Maio deste ano, em Berlim, Leipzig e Hamburgo (precisamente a fazer sessões em Universidades e escolas) e fiquei de boca aberta com os preços! Tudo bastante mais barato!
Triste sorte a nossa!
Beijo
Cristina Carvalho
Como leitora, estou de acordo com ambos os pontos, e fujo muitas vezes aos preços comprando as versões de bolso em inglês.
ResponderEliminarMas quanto ao primeiro ponto, publicar em português é sempre à partida muito mais caro pois, antes da publicação, os custos são muitos (desde a compra de direitos, custos de tradução e revisão, impressão de tiragens pequenas que se tornam muito mais caras). E esses custos não são diluídos na quantidade de exemplares impressos que, devido à dimensão do nosso mercado, são sempre baixas. Publicar em alemão, e sobretudo em inglês, garante à partida um volume de vendas muito maiores e a diluição de todos os custos iniciais.
Sim, é verdade, o mercado português é bem mais pequeno...
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