Há uns tempos, no 2711, chamava eu a atenção para o facto de J.R.R. Tolkien ter sido
recusado para o Prémio Nobel, há 50 anos, o que nos levou à questão do
valor literário de livros que vendem como pãezinhos quentes. Mas sucesso
comercial não quer necessariamente dizer fraca qualidade. E há certos livros,
que, não sendo obras-primas da literatura, contêm em si a fórmula que os
catapulta para o imaginário colectivo.
Lembrei-me disso ao ler que um
fã das obras de J.R.R. Tolkien criou uma árvore genealógica de todas as
personagens que habitam o mundo fictício da "Middle Earth" (...) O
aficionado (um engenheiro químico sueco) disponibilizou
a árvore online na semana passada e o
projecto já envolve 703 personagens, mas Johansson acredita que ainda lhe
faltam cerca de 100 (via Blogtailors).
Outros livros há que levam os seus fãs a confundirem ficção com realidade.
Muita gente está convencida de que Sherlock Holmes existiu e há turistas em
Londres, que, vendo-se na Baker Street, vão à procura do número 221B, para
tirarem fotografias à casa onde viveu o mais famoso detective da História!
Acontece que, como Sherlock Holmes, também o número 221B era, à altura, produto da imaginação
de Sir Arthur Conan Doyle. Quando a Baker Street foi aumentada, o número 221 passou realmente a existir, o que, aliás, tem causado alguns problemas, como se pode ler aqui.
A qualidade literária dos livros de J.K. Rowling deixa muito a desejar. Mas
ela conseguiu algo que 99% dos vencedores de Nobel nunca conseguirão: o seu
Harry Potter, além de fazer parte do imaginário colectivo, também é usado como
metáfora aceite no mundo literário e entendida a nível mundial. Num post
sobre ficção científica para crianças, li o seguinte: Que livros do género são apropriados
para crianças? Haverá algum tipo de Harry Potter
na ficção científica?
Livros e personagens que transcendem a vida de quem os criou. Se isto não é talento...
Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
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16 de fevereiro de 2012
19 de janeiro de 2011
O Autor e as suas Personagens
Um outro aspecto que muito cativou foi a apresentação dos intervenientes nesta história de uma forma onde nenhum dos lados tem a razão absoluta. Em várias circunstâncias, mas principalmente na relação conflituosa entre Dinis e a sua rainha, o leitor é levado a sentir mais empatia ora com um, ora com o outro, mas sem que fique, alguma vez, a sensação de algum deles estar absolutamente certo.
Na sua opinião sobre D. Dinis a quem Chamaram o Lavrador, a Carla Ribeiro d'As Leituras do Corvo referiu uma das características da minha escrita, onde me mantenho fiel ao princípio de que ninguém é dono da razão absoluta. Fujo, por isso, ao esquema "personagens boas versus personagens más". Há um certo risco nesta opção, muitos leitores preferem ver o herói a lutar contra o vilão. Mas, na vida real, ninguém é um ou o outro a 100%.
No caso de D. Dinis, por exemplo, há muita tendência para considerar o sucessor D. Afonso o único culpado pela guerra civil. O infante surge como o filho desnaturado, que tem a ousadia de se revoltar contra o pai, um rei tão sábio e justo. No entanto, por trás do rei e do seu sucessor, estão um pai e um filho e todos sabemos que nos desentendimentos familiares graves as responsabilidades repartem-se pelas partes.
Deixo, por isso, agir as minhas personagens, dando a conhecer os diferentes pontos de vista, sem dar razão a umas ou a outras. Principalmente, o próprio autor deve manter-se de fora, com se não existisse. Muitos autores não resistem à tentação de dar a sua opinião sobre certos aspectos ou acontecimentos. Eu sigo os ensinamentos de Sol Stein, escritor e dramaturgo americano, que, fora do seu país, é mais conhecido pelos seus livros de escrita criativa e de conselhos a "candidatos a escritores". Diz ele que, num romance, o autor deve fazer os possíveis por se manter invisível, pois o transparecer da sua opinião é um acto inadequado, que só serve para distrair o leitor mergulhado na história. Claro que um narrador na primeira pessoa pode e deve ter pensamentos e opiniões, o que, no entanto, não pressupõe que estes coincidam com os do autor.
Também Andrés Neuman, autor de O Viajante do Século (Alfaguara 2010) disse, numa entrevista à OML nº 89, de Agosto de 2010:
A função moral mais profunda da narrativa é mostrar as razões de cada personagem, sem as julgar. Não gosto do narrador que fala do alto do seu púlpito e que assinala ao leitor com o dedo os que são maus e os que são bons. Creio que essa postura anula o pensamento crítico. A ambiguidade e a confusão entre o bem e o mal são muito parecidas à condição humana. Ninguém está totalmente ao lado do bem ou do mal.
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