Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

30 de janeiro de 2013

Visitas

Embora ainda continuem a ser bastantes, as visitas ao Andanças tornaram a baixar um pouco. Mas só um pouco ;-) em relação ao que eu aqui dizia.

A este propósito, constatei algo interessante: a página da Wikipedia sobre D. Afonso Henriques foi modificada há poucos dias. E pergunto-me se terá uma coisa a ver com a outra, ou seja, se alguém andou por aqui a pesquisar...

Devo dizer que acho muito bem!

Por um lado, a página da Wikipedia em questão era, até há uns tempos atrás, uma verdadeira vergonha, não servia nem para as crianças do infantário! Eu própria pensei em atualizá-la, mas adio sempre, ou por esquecimento, ou por falta de tempo.

Por outro lado, acho ótimo que venham aqui pesquisar sobre temas históricos. Até porque é uma pena não haver mais blogues que se dediquem a este tema. Gostaria muito de ler outros e de trocar impressões. Uma tristeza, em Portugal, um país com tantos séculos de História!

27 de janeiro de 2013

Revolução


A notícia da morte do major-general Jaime Neves apanha-me numa altura em que me ocupo intensamente com o 25 de Abril. É verdade. Fiz uma pausa nas minhas andanças medievais, decidida a escrever algo sobre a Revolução dos Cravos.

O episódio tem-me fascinado e mistura-se com as minhas próprias recordações de infância. E é engraçado constatar que, ao contrário da maioria da população portuguesa, que jubilou com a revolução, eu vivia num meio em que os novos tempos demoraram a chegar. A minha infância salazarista só terminou depois do 11 de Março de 1975. A minha família teve alguma dificuldade em lidar com a revolução e só uma mudança de casa e de escola me lançou num mundo completamente novo, em pleno Verão Quente, o Verão em que completei dez anos.

Mas não quero revelar demasiado sobre o "livro" que começa a surgir na minha cabeça. Hoje, queria apenas dizer que, contaminada com filmes como A Hora da Liberdade (de que falei aqui) e Capitães de Abril, em que os heróis da revolução nos surgem tão jovens, foi triste ler sobre a morte de Jaime Neves.

E eu que achava que já era castigo suficiente tomar consciência de que Salgueiro Maia está morto há mais de vinte anos!


Aproveito para agradecer a todos aqueles que fizeram o 25 de Abril, com Otelo Saraiva de Carvalho à cabeça! Todos nós, nascidos antes e depois do 25 de Abril, mesmo os portugueses que ainda estão por nascer, devem muito a estes homens. Mesmo estando Portugal a passar por uma fase tão difícil, aconteça o que acontecer, pertencer ao país onde se deu a Revolução dos Cravos é motivo de orgulho!

Poupem-nos!

É assim que se constroem os mitos!

Um juiz da cidade de Macaé, no Brasil, determinou que os livros da trilogia ‘As Cinquenta Sombras de Grey’, da escritora britânica E.L. James, devem ser retirados das livrarias. Para a 2ª Vara de Família, da Infância, da Juventude e do Idoso, estas e outras publicações são consideradas impróprias e não devem ser expostas.

Via Blogtailors

25 de janeiro de 2013

Ainda as Mães

Falava eu há tempos da "ditadura das mães", que consiste na obrigação de idolatrar todas as mães, independentemente do seu comportamento em relação aos filhos. É verdade que "mãe, há só uma" e a maior parte delas merece o "endeusamento" praticado pela nossa cultura. Mas também é verdade que, à sombra da crença, se encontra lugar para muita crueldade dissimulada.

Ainda antes do Natal, fomos confrontados com uma mãe que, em Alenquer, incendiou a casa, matando os dois filhos pequenos, enquanto estes dormiam. É claro que a senhora terá graves problemas psicológicos e, pelo que constatei na reportagem do Telejornal, ela mal saía de casa, assim como os filhos. Pergunto-me que vida (se é que se lhe pode chamar assim) teriam estas crianças.

Na mesma altura, deparei com um artigo sobre a mãe de Adam Lanza, o assassino de Newtown, com o título: Nancy Lanza: a primeira vítima ou a primeira culpada? A mulher tinha um arsenal de armas em casa e visitou, junto com o filho, vários campos de tiro para praticar. Por outro lado, Adam tinha problemas psicológicos ou emocionais que tornavam os elementos mais básicos da vida quotidiana - tal como a escola e os eventos sociais - um desafio para ele (...) À medida que esta cidade destroçada tenta processar o horror do massacre, há uma raiva considerável em relação à mãe de Adam. O seu nome está ostensivamente ausente de muitos dos memoriais e notas de condolências espalhados pela cidade.

Os habitantes de Newtown perguntam-se porque é que o filho tinha acesso às armas. Eu acho que o problema é muito mais complexo. Penso que nos devemos perguntar porque é que Adam tinha problemas psicológicos e emocionais tão graves! E também porque é que ele sentiu necessidade de matar a mãe, antes de cometer os outros crimes.

Enfim, são questões complexas e, sem conhecimento de causa, limitamo-nos a especular. Mas quis o acaso que eu assistisse, recentemente, a um programa que o canal alemão ARD transmitiu em Julho passado e que eu gravara. Foi um programa muito difícil de aguentar, um autêntico murro no estômago, que me deixou incomodada durante vários dias, pois tratava de um tema tabu por excelência: mães que molestam sexualmente os seus filhos. A polícia, e mesmo alguns psicólogos, acreditam que apenas os homens são capazes de tal crime, o que põe as vítimas numa situação de grande abandono, pois é difcílimo encontrar quem acredite nelas e lhes dê apoio. E põe-nas, muitas vezes, com vontade de matar a própria mãe, apesar de admitir ainda a amar, como confessou alguém nesse programa.

Não é minha intenção desculpar ninguém que cometa crimes horrendos pelo facto de ter sido abusado, maltratado, desleixado, ou humilhado pela mãe/pelos pais. Mas nada do que fazemos é por acaso. E tentar compreender as causas é deixar de fechar os olhos a este tipo de situações, que podem ter consequências terríveis.

Toda a gente censura os filhos que não tratam bem dos pais velhos. Mas quase ninguém censura os pais que não tratam bem dos filhos crianças. A não ser que o caso acabe em tragédia, fechamos os olhos a muitas maldades, porque, enfim, pais são pais. A dignidade das crianças, porém, não é inferior à dos idosos.

Adenda: já depois de ter escrito este post, constatei que passou, esta semana, mais uma reportagem sobre crianças sujeitas a abusos, no canal alemão regional MDR. Estudos parecem demonstrar (pelo menos, na Alemanha), que 15% (!!!) dos pais utilizam métodos, digamos, menos ortodoxos (para sermos simpáticos) a fim de "domarem" os filhos: tareias, queimaduras provocadas e o sacudir violentamente (que pode, aliás, levar à morte de bebés e crianças pequenas). As feridas físicas costumam curar. Já as psicológicas...

22 de janeiro de 2013

De novo em alta

Em Novembro passado, assinalei aqui o facto de o Andanças ter ultrapassado, pela primeira vez, a barreira das 1000 visualizações numa semana. Não duvido que teve a ver com a inclusão de um post meu numa lista de sugestões de leituras do Pedro Correia, no Delito de Opinião. A prova é que, passado algum tempo, as visualizações diminuiram bastante.

Agora, porém, torna a ser um fartote. Na barra lateral, constato que os posts mais clicados são os de D. Afonso Henriques. Será que, de repente, há uma data de gente interessada na História de Portugal? Ou será que há algo que me escapa (uma qualquer referência num outro blogue de prestígio)?

Seriam, de qualquer maneira, duas boas razões. E, enquanto dura, vai-se gozando.
Obrigada!

19 de janeiro de 2013

Pequena Miss Sunshine


Um avô viciado em cocaína, um pai obcecado com a receita do sucesso, uma mãe stressada, um tio homossexual que se tenta suicidar, um filho de quinze anos que passa a vida a ler Nietzsche e se recusa a falar, uma filha gordita de sete anos que sonha em ganhar o título de Little Miss Sunshine. São estes os elementos de uma família que se mete numa carrinha VW antiga, percorrendo mais de mil quilómetros, precisamente para que a pequena Olive possa participar no tal certame.

Os problemas estão programados: discussões, ataques de fúria, depressões e, como se tudo isto não bastasse, o avô morre pelo caminho e a caixa de velocidades da carrinha avaria. Deixam de funcionar a primeira e a segunda velocidades, pelo que o veículo tem de ser empurrado para que possa arrancar em terceira. Assim se repete a cena hilariante de que todos, à exceção do condutor, têm de entrar na carrinha com ela em andamento, em passo de corrida.


Este filme fresco e original mostra-nos a importância do amor, sem ser um dramalhão de puxar à lágrima. Pelo contrário: irónico e descontraído, tem ainda o mérito de arrasar com os concursos de beleza americanos para crianças (meninas). Nada mal, para um filme americano!



17 de janeiro de 2013

Mais uma questão de perspetiva


A preocupação por animais maltratados e abandonados e a sua consequente ajuda, por parte de pessoas que se compadecem deles, em tempos de crise, dá azo a inúmeras críticas por parte de quem não está sensibilizado para a questão animal. Então, o ser humano não está à frente de cães e gatos? Como se podem fazer campanhas a fim de pagar tratamentos hospitalares a um cão, quando há gente a passar fome?

Por outro lado, eu pergunto: o facto de haver gente a passar fome justifica o gesto de olhar para o lado, ao depararmos com um animal em grande sofrimento? Ajudarei alguém (pessoa, ou animal) com esse gesto? Alguém, no seu perfeito juízo, acredita que, se pararmos de tentar ajudar os animais, diminuirá a fome no mundo? O mesmo se aplica à angariação de dinheiro para, por exemplo, questões culturais.

A este propósito, costumo recordar-me de algo que se passou na sequência do desmoronamento do Bloco de Leste.

Quando a Roménia se revoltou contra o ditador Nicolae Ceauşescu e sua esposa, ditando a sua execução sumária, descobriu-se, naquele país, algo que arrepiou o resto da Europa. Durante décadas, o regime comunista romeno livrou-se de seres incómodos, note-se, crianças com deficiência, depositando-as nos chamados Spital, onde ficavam fechadas, longe dos olhares dos humanos "normais", até dos seus próprios progenitores, que tinham mais que fazer do que preocupar-se com filhos "anormais"! Caído o regime, o ocidente deparou com imagens horríveis desses inocentes, que vegetavam em instituições inenarráveis, sem o mínimo de higiene, nem cuidados, num sofrimento atroz.

A barbaridade gerou, e muito bem, uma grande onda de solidariedade. Organizações como a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras canalizaram esforços e pessoal para irem tratar daquelas crianças. Os cidadãos europeus fizeram enormes donativos em dinheiro, comida, brinquedos e medicamentos.

A alguém passava pela cabeça que houvesse quem contestasse tal movimento?
Acontece que a maioria da população romena vivia na miséria e muitos desses Spital ficavam nas imediações de aldeias onde se passava fome e frio. A chegada das carrinhas da Cruz Vermelha, cheias de alimentos e outros mimos para as ditas crianças, começaram a ser alvo de ataques dos aldeões. Atiravam pedras, pondo a vida dos voluntários em risco, e davam asas à sua fúria: como podem pensar em ajudar esses anormais, enquanto nós vivemos na miséria? Não valemos nós mais do que um punhado de anormaizinhos?

O problema não são os animais que vivem como pessoas. São as pessoas que vivem como animais.

Cada um tire as suas conclusões!

15 de janeiro de 2013

Mais comparações grotescas

O conceito de se abater um animal que, supostamente, deixou de se adequar à vida doméstica é, a meu ver, perigosa, porque, no fundo, legitima também o abandono, ou seja: "aquilo" que deixou de nos servir, ou que alguém (atente-se: alguém) deixou de poder controlar, ou que passou a atrapalhar-nos, pode deitar-se fora, como um bibelô de que já gostámos muito, mas que passou a irritar-nos. Se é grotesco pôr animais ao nível de humanos, não o é menos pôr seres vivos ao nível de objetos. Não se pode ir de um extremo para o outro! Nós, humanos, não somos donos do Universo, nem, sequer, do nosso planeta Terra. Estamos aqui por empréstimo, assim como os outros animais, que Deus achou por bem criar. Apenas para nos serem úteis? Não creio! Se a utilidade tivesse sido o único critério divino, não se justificaria tanta diversidade.

Crianças e cães, para os humanos, não estão no mesmo nível, escreve Daniel Oliveira na sua crónica "Antes pelo contrário". Claro que não! Mas o contexto em que surge esta frase é, na minha opinião, problemático. Analisemos a sequência: Escrever que "a criança e o cão são os dois inocentes desta história" é pornográfico. Crianças e cães, para os humanos, não estão no mesmo nível. Partindo do caso concreto, chega-se à generalização, a meu ver, perigosa. Porque é que não se pode dizer que um cão é inocente, assim como uma criança, em determinada situação? O estarem, ou não, ao mesmo nível, é variável, conforme o contexto.

Um cão que mata uma criança com quem convive deixou de ser um animal doméstico - como é que o Daniel Oliveira sabe que o cão e a criança, deste caso, "conviveram"? O facto de morarem na mesma casa não quer dizer que o tenham feito, não se sabe em que condições era mantido o cão. O mais provável é que, se tivessem de facto "convivido", a criança ainda estivesse viva!

A vida do humano mais asqueroso vale mais do que a vida do animal doméstico de que mais gostamos. Sempre.  Acha? Pois olhe que se me perguntar quem merece mais viver: a minha cadela Lucy - a minha companheira inseparável desde há nove anos, que me adora e confia em mim, que me ensinou o que é a verdadeira fidelidade, a honestidade e o amor realmente incondicional - dizia eu, se me perguntasse quem merece mais viver: ela, ou um dos energúmenos que participaram na violação coletiva, na Índia, seguida de assassinato, eu respondo-lhe, sem hesitações: a minha cadela!


As crianças não podem correr risco de vida, sejam lá qual forem os motivos - aqui, estamos de acordo! Só foi pena que este pressuposto não tivesse sido aplicado no caso das vinte crianças assassinadas em Newtown por um cão de raça perigosa... Ai desculpe, por uma fera que se soltou do zoológico... Oh, tornei a enganar-me, por um psicopata, um... humano?!
Peço desculpa se estas comparações foram demasiado grotescas!

14 de janeiro de 2013

Passatempo XII

Desta vez, o passatempo decorre no blogue O Que Os Livros Me Dizem, de Miguel Nunes. Até ao dia 25 de Janeiro, há um exemplar de Afonso Henriques - O Homem para sortear. Só têm de responder a umas perguntinhas.

Boa sorte!


13 de janeiro de 2013

Disfarces

Por isso nos refugiamos em disfarces, contrariamos o que é natural. Aparentamos, e a ninguém iludimos - nem a nós próprios.

Em Tempo Contado

11 de janeiro de 2013

O Dilema de Mo Yan

A atribuição de alguns Prémios Nobel fizeram correr rios de tinta, nos últimos anos. A primeira grande polémica surgiu à volta de Barack Obama, que recebeu o Nobel da Paz apenas por ter sido eleito Presidente dos EUA. Por acaso, eu concordei com esta atribuição, já que Obama foi o primeiro Presidente negro, algo que, até meio ano antes da sua eleição, era impensável. Foi um importante sinal ao mundo, digo eu.

No Outono passado, houve duas decisões que causaram perplexidade. Uma delas tem novamente a ver com o Nobel da Paz, ao ser atribuído à União Europeia, numa altura em que muitos europeus lutam pela sobrevivência. A justificação, porém, tem a sua razão de ser: assinalar 60 anos de paz na Europa! Realmente, talvez seja a primeira vez que este nosso continente atravessa seis décadas sem qualquer tipo de conflito bélico entre as suas potências.

Mas que dizer do Nobel da Literatura atribuído a Mo Yan, um escritor desconhecido a nível mundial e, ainda por cima, colaborador de um regime que está longe de respeitar os Direitos Humanos? O próprio Mo Yan não contribuiu para melhorar a sua imagem no estrangeiro. Chegado a Estocolmo, comparou a censura ao controlo de segurança nos aeroportos e recusou-se a assinar uma petição pela libertação do Nobel da Paz de 2010, o seu conterrâneo Liu Xiaobo.

As reações não se fizeram esperar. O poeta Ye Du, citado pela AFP, comparou Mo Yan a uma prostituta, afirmando ainda: «Em termos literários tem algum mérito, mas como ser humano é um anão». O artista plástico Ai Weiwei classificou o seu discurso em Estocolmo como «vergonhoso». E Salman Rushdie denominou-o de fantoche do regime.

Evan Osnos, correspondente da New Yorker em Pequim, saiu em defesa do nobelizado, apontando que Mo Yan se encontra numa posição dificílima. Nas suas palavras: «O Governo chinês pode, de uma penada, escolher tornar a sua vida miserável, e seria o resto do mundo a decidir como a história o recordará». E acrescenta: «Ninguém que não tenha suportado o peso de escrever sob autoritarismo pode ignorar com indiferença o seu dilema».

Confesso que estas palavras me fizeram refletir. Vim para a Alemanha pouco depois do desmoronar da Europa de Leste e a História da República Democrática Alemã está cheia de casos de artistas nas duas situações. Há aqueles que foram perseguidos por contestarem o regime, alguns conseguiram fugir para o ocidente, muitos foram presos e torturados. Mas há aqueles que colaboraram com o regime, não porque concordassem com ele, mas porque sabiam que a sua vida se destruiria de um momento para o outro, caso tomassem a decisão errada. Eram vítimas de chantagem e, muitas vezes, era a vida dos seus filhos que estava em causa.

Não sei se Mo Yan tem uma família a defender. Mas escolheu um pseudónimo que significa «não fales». Basta olhar para o seu rosto para perceber que se encontra fechado ao mundo. Só se expressa através dos seus romances, que, pelo que tenho lido, revelam um vida interior rica. É bem capaz de lhe ser impossível viver sem esse escape. Será essa a razão porque se sujeita ao regime chinês?


Compreendo a amargura dos artistas que dão a cara e que correm (ou correram) perigo de vida por expressarem as suas opiniões. Por outro lado, pergunto-me qual será a extensão e o peso do dilema de Mo Yan.

Nota: as informações usadas neste texto foram recolhidas nesta notícia.


9 de janeiro de 2013

Uma História de Baleias

No Canal Arte, no serão de sábado passado, foi transmitido um programa sobre a importância da caça à baleia para o desenvolvimento industrial e a criação do capitalismo, nos Estados Unidos da América.

Este programa televisivo deixou-me duas horas colada ao ecrã, por três razões:

1 - Mostrou, mais uma vez, que o ser humano é um animal muito irracional, em certas circunstâncias. Mesmo que o avisem das más consequências de certo ato, não consegue parar. Só o faz, ou quando a coisa descamba numa tragédia, ou quando se encontra outra fonte geradora de riqueza. E toca a explorar a nova até a tutano, sem olhar às consequências (sejam elas ambientais, ou provoquem elas sofrimento em outros humanos e/ou animais).

2 - Fiquei a saber que Moby Dick, a obra-prima da literatura de Herman Melville, foi, em parte, baseada num relato verídico. Melville entrou em contacto com o diário de um caçador de baleias, entretanto falecido, que sobrevivera ao naufrágio de um barco baleeiro, um veleiro de três mastros, à volta de 1820, quando este foi atacado por uma baleia. O insólito, no caso, foi precisamente o ataque da baleia, sem que esta estivesse ferida, ou a ser perseguida pelos caçadores. A tripulação conseguiu salvar-se em três pequenas baleeiras a remos (que serviam também de salva-vidas). Vaguearam pelo Oceano Pacífico durante três meses, sobrando cinco sobreviventes, porque se foram alimentando dos colegas que iam morrendo. O mais trágico no meio disto tudo é que eles se aventuraram numa viagem de cerca de cinco mil quilómetros, até à costa do Chile, recusando a hipótese de rumarem ao Tahiti, a menos de mil quilómetros do local do naufrágio, com medo dos canibais!

3 - Moby Dick, à altura da sua publicação, foi um flop de vendas, arrasado pela crítica. Melville nunca mais escreveu romances, dedicou-se à poesia, mas nunca teve êxito, caindo no esquecimento e morrendo, com 72 anos, anónimo. Histórias destas são muito românticas. Mas alguém pensa na tristeza e na frustração de um escritor que sabia ter escrito um grande livro, sem encontrar esse reconhecimento?

Todos sabemos que não é caso único. Valha-nos hoje em dia haver gente que entende muito de literatura e que reconhece um talento, assim que lhe põe os olhos em cima...

7 de janeiro de 2013

Aceitam-se colaborações

O Edição Exclusiva, que se define como um «blogue coletivo dos principais especialistas do livro em Portugal - o think tank do livro», apresenta-se cheio de novas propostas, em 2013. Uma delas é fiel ao seu pressuposto de ser aberto à participação geral e lança, para já, dois temas:

- Livros de poesia
- Feira do Livro de Lisboa

Cliquem para mais informações!

Adenda: Hoje, há 20 anos, nasceu a História de Portugal de José Mattoso, assim se intitula o post publicado hoje pelo Edição Exclusiva, da autoria de Rui Beja. Ainda bem que há quem assinale estas datas importantíssimas. Porque a História de Portugal nunca mais foi a mesma, desde o dia em que se publicou essa grande obra!

5 de janeiro de 2013

Pequena Abelha


Quase todos somos a favor de que se recambiem os imigrantes ilegais para a sua terra. Pode tratar-se de gente perigosa, além de que dão cabo dos nossos recursos, principalmente, em tempos de crise. O que não se considera é que muitos desses imigrantes viveram o horror, nos seus países, e o regresso pode significar a sua morte.

Considerando os horrores que a Abelhinha, a personagem principal deste romance, viveu no seu país de origem, a Nigéria, todos os nossos problemas, na civilizada e democrática Europa, são insignificantes. Reclamamos de barriga cheia. Mas será mesmo assim? Mesmo que não assistamos ao assassinar da nossa família, ao violar e assassinar das nossas irmãs e mais outras barbaridades, devemos mesnosprezar e relativizar o nosso stress, as nossas frustrações e depressões, que nos podem levar ao suicídio?

Este livro tem o mérito de nos apresentar todos os lados da questão, sem julgar qualquer uma das situações. Somos, apenas, postos a par dos factos, o juízo é nosso. Duas mulheres, uma jovem nigeriana e uma jornalista inglesa, possuem problemas bem diferentes que acabam por se emaranharem uns nos outros, já que o destino quis que as suas vidas se cruzassem.

Chris Cleave administra muito bem a estrutura do texto, nomeadamente, no que diz respeito aos flashbacks. Além disso, equilibra, com mestria, a ironia e a tragédia e mantém-nos suspensos, sem vontade de largar o romance (qualidade de que sinto falta nos escritores portugueses que tenho lido). Apenas o fim me desiludiu um pouco, não por ser descabido, mas por o autor ter alimentado muitas expetativas em vão.

De qualquer maneira, um dos melhores livros que li, talvez o melhor da lista aqui do blogue. Resta-me acrescentar que peguei nele por causa da opinião do Manuel Cardoso.

2 de janeiro de 2013

Proteção dos Animais


A propósito do 175º aniversário da fundação da primeira Sociedade Protetora dos Animais, na Alemanha, fiquei a saber que o movimento tem raízes na Igreja. No início do século XVIII, o pastor luterano Adam Ludwig Weigen, da região de Estugarda, exigiu caridade em relação aos animais, no seu livro Über die Rechte des Menschen gegenüber den Kreaturen (Acerca dos Direitos do Homem sobre as Criaturas).

O livro foi, porém, esquecido e só cerca de cem anos mais tarde um outro pastor luterano, Christian Adam Dann, da mesma região, se dedicou ao tema. O ponto de partida foi uma cegonha que construíra um ninho na torre da sua igreja. Certo dia, ao dar um passeio, Christian Adam Dann descobriu o cadáver da cegonha crivado de balas. Ficou tão indignado, que publicou um texto com o título Bitte der armen Tiere, der unvernüftigen Geschöpfe, an ihre vernüftigen Mitgeschöpfe und Herren, die Menschen (Pedido dos Pobres Animais, as Criaturas Irracionais, às Criaturas Racionais, os seus Donos, os Humanos). Neste texto, ele condenava o abandono e os maus tratos, pois os animais, como criaturas de Deus, mereciam ser respeitados. Citava um provérbio do AntigoTestamento: «O justo cuida das necessidades do seu gado, mas as entranhas dos ímpios são cruéis».

Christian Adam Dann faleceu, porém, alguns meses antes de ver concluída a sua obra: a fundação da Verein zur Verhinderung der Tierquälerei (Sociedade de Prevenção dos Maus Tratos aos Animais), a 17 de Junho de 1837. Um outro pastor luterano, Albert Knapp, deu-lhe continuação e, embora tivesse de enfrentar bastante oposição (também da própria Igreja), conseguiu que se promulgassem leis de proteção dos animais domésticos. Desde aí, os amigos dos animais não mais pararam de crescer e de se organizar.