Tenho muitas vezes a impressão de que em Portugal ainda há algum preconceito em tornar a História acessível às massas. Se há algo que eu admiro nos ingleses, é a maneira como comercializam e/ou divulgam a sua História. Fazem-no sem qualquer tipo de preconceitos. O facto de a comercializarem não se traduz numa falta de respeito pelo passado e seus intervenientes, pelo contrário. Ensinaram o mundo inteiro a respeitar (e a sonhar com) o rei Artur, Ricardo Coração de Leão, ou Robin Hood, mesmo tendo em conta que não está provada a existência histórica de duas destas três personalidades. A Inglaterra respira Idade Média por todos os poros, um périplo pelos seus castelos medievais é uma experiência inesquecível, não só para aficionados (as fotografias que ilustram este post foram tiradas no castelo de Warwick).
No nosso país, há ainda a tendência para se tratarem certas figuras históricas como se fossem personagens sagradas, à volta das quais é necessário manter uma certa mística. Não digo que não terá o seu encanto. Mas é preciso não esquecer que homens como D. Afonso Henriques ou D. Dinis não passavam de seres humanos, com as suas dúvidas, os seus receios, as suas paixões e os seus problemas.
Os livros de História não ficcionada (os meus preciosos instrumentos de pesquisa) na sua tentativa (muito louvável) de relatarem os factos secos, com o máximo de objectividade, acabam por nos darem a sensação de que essas personalidades tomaram as suas decisões sem hesitarem, como se soubessem, de antemão, qual seria o resultado. Mas D. Afonso Henriques, por exemplo, ao ser aclamado rei pelos seus guerreiros antes da Batalha de Ourique, ainda não sabia se veria essa aclamação oficializada por escrito; não sonhava que, para atingir a almejada independência, se teria que tornar vassalo do papa; nem tão-pouco poderia adivinhar que conseguiria condições para conquistar Santarém e Lisboa.
Nos meus romances, tento dar a ver a dimensão humana das personalidades, gosto de as aproximar do leitor, de maneira a que este se identifique com elas, vivendo as suas angústias e alegrias, ou, pelo menos, tenha a sensação de estar a observar todos os seus passos. Preencho, com a minha imaginação, as lacunas criadas pela distância de séculos, seja pelo facto de as fontes serem inexactas, seja por se terem perdido.
O Professor José Mattoso, um dos nossos mais prestigiados historiadores, inicia a biografia de D. Afonso Henriques (Temas e Debates 2007) com a frase: “Não é preciso ser historiador profissional para perceber que não se pode traçar a biografia de uma personagem medieval sem uma grande dose de imaginação”.
Viva a Imaginação!
ResponderEliminarViva o Sonho!
Mais do que História, gosto de histórias bem contadas. Que venham elas.
Depois de um dia bastante deprimente esta foi uma excelente notícia. :)
Mão exageres, ainda me vais dizer que o Sócrates é simplesmente humano...
ResponderEliminarMas tens razão, viva a imaginação e que o banquete seja servido.
Parabéns por este novo blogue.
ResponderEliminarE sim, concordo, fazer história é muitas vezes usar a imaginação.
Boa semana!