A propósito da classificação do Fado como Património Imaterial da Humanidade, lembrei-me de um texto que escrevi para o Delito de Opinião, respondendo ao amável convite do Pedro Correia, e que tornei a publicar aqui no Andanças. O seu título era Herança Islâmica e eu citava o lindíssimo livro de Adalberto Alves, Em busca da Lisboa Árabe (Edições CTT, 2007).
Adalberto Alves fala-nos no drama vivido pelos últimos mouros em terras portuguesas, depois de D. Manuel I decretar, em 1496, a expulsão do reino de todos os que não se convertessem à fé católica. Muitos conseguiram simular uma integração, mas ficaram sujeitos às mais variadas atribulações, no que constituiu um dos maiores dramas da História da Península do século XVI. Como nos diz o autor na obra referida: “transformados em marginais, rufiões e desclassificados, ébrios de fatalidade, frequentavam ainda Alfama e Mouraria vagueando como fantasmas gastos, sob a pálida memória dos seus antepassados”; “inventam um género musical e com ele cantam o seu fado”; “ao percorrermos certas alfurjas esquecidas de Lisboa antiga, parece sentirmos ainda como que os ecos longínquos desses fados esquecidos, onde o árabe se enroupava em português para exprimir o lamento dos humilhados do destino.”
No livro, é ainda reproduzida, na página 147, uma fotografia do autor na companhia de Amália Rodrigues, que, como Adalberto Alves nos diz, “estava intimamente convicta da parentela entre o fado e a música árabe, que muito apreciava”.
Eu sei que esta teoria é polémica, mas eu acredito nela. E seria bom que os portugueses, a propósito desta classificação, se lembrassem dos mouros; se lembrassem de que a herança islâmica é muito forte no nosso país; referissem que essa herança terá tido mais importância para a formação do nosso carácter do que o que se costuma aceitar; referissem que, se não fossem os mouros, talvez não existisse o Fado.
O Fado é sinónimo de sentimento para mim, sobretudo saudade. E, apesar de apreciar muito Amália Rodrigues, prefiro o fado de Coimbra, mais pelo pormenor do toque da sua guitarra. Quando dizem que o fado é a história de um povo, não posso concordar, pois não sabemos as suas "verdadeiras" origens. Se bem que sempre associei o Fado que conhecemos hoje com origens na vida boémia de Lisboa ou Coimbra.
ResponderEliminarGostei do seu post!
E já agora, que tivessem predurado na nossa herança islâmica, outros aspectos culturais.
ResponderEliminarMas não... pelos vistos, aquilo que os árabes nos deixaram em maior quantidade... foram camêlos.
:(
;))
E camelos deficientes, só com duas patas.
ResponderEliminarAlém das sonoridades aparentadas com a música Árabe, quando ouço flamengo tenho a mesma sensação. Ou talvez seja apenas porque é música.
Ainda bem que refere esse aspecto, João. Ontem, num post sobre o fado num blog brasileiro (o que, por si só, já é de louvar) li que a tese moura não será correcta, pois no Algarve, onde os mouros prevaleceram durante mais tempo, ou na Andaluzia, onde ficaram até ao século XV, não há fado. Além disso, só há registos de fado a partir do séc. XIX.
ResponderEliminarEu respeito essa versão, mas acho que está longe de contradizer a tese moura. Em Lisboa, os cantares em sons longos e arrastados deram origem ao fado; no Alentejo deram origem aos cantares alentejanos; na Andaluzia, a outro tipo ainda. Em cada região, havia circunstâncias e vivências diferentes, conforme a mistura étnica que lá vigorava e o tipo de vida. Em Lisboa, haveria um certo tipo de circunstâncias que, mais tarde, terá dado origem ao fado.
O post em questão pode ler-se aqui:
http://mrdebrassi.blogspot.com/2011/11/fado-patrimonio-mundial-da-humanidade-e.html
Seja qual for a origem do fado a verdade é que o nosso povo foi "beber" influências a muitos povos e isso é uma riqueza que não podemos desprezar nem ignorar.
ResponderEliminarAbraço do Zé
Fado como música árabe? Fogueira com ele! ;)
ResponderEliminarOlá,Cristina
ResponderEliminarOs árabes como parte integrante da nossa cultura é, sem dúvida,um dado irrefutável. Pena é que não se fale mais disso e se deixe cair num quase esquecimento tudo o que lhes devemos.
Gostei muito deste seu post e do comentário sobre o Fado no blog da Mara. Falarmos sobre as coisas é uma forma de se fazer luz.
Bj
Olinda
É isso mesmo, Olinda. Eu respeito a opinião da Mara e de todos aqueles que rejeitam a tese da influência moura porque, de facto, nada está provado.
ResponderEliminarMas eu insisto. Talvez seja uma questão de fé... ;)
Dizem que o fado nasceu no mar,os Marinheiros iam para o mar, sentindo muitas saudades.Então começaram a cantar o fado.
ResponderEliminarAcredito mais nesta teoria.
Acredite no que quiser, não se sabe a sua origem, nenhuma tese está provada. E talvez seja melhor assim.
ResponderEliminarFui ver a origem do fado de coimbra e apareceu me o de Lisboa.
ResponderEliminarEntão o fado nas ruas de Lisboa só ficou a ser conhecido depois de 1840.Nessa época só o fado do marinheiro era conhecido,cantado pelos marinheiros na proa do navio.
Os fadistas em 1840 eram conhecidos pela sua maneira de trajar.
Outra explicação popular,para a origem do fado de Lisboa,foi o"Cantico dos Mouros"no bairro da Mouraria,após a Reconquista Cristã.
Claro que a verdadeira origem não se sabe.
Sim, só a partir do séc. XIX se pode falar de fado, como disse a Mara, no post acima indicado (num comentário meu) e que é este:
ResponderEliminarhttp://mrdebrassi.blogspot.com/2011/11/fado-patrimonio-mundial-da-humanidade-e.html
Mas, quanto a mim, a influência moura não é necessariamente desmentida nesta evidência. Adalberto Alves diz-nos, no seu livro (citado no meu post), que Amália Rodrigues estaria "convicta da parentela entre o fado e a música árabe". Penso que poderá ser esta a palavra certa: uma "parentela", traduzida numa maneira de cantar e de exprimir sentimentos que perdurou durante séculos e que terá dado origem ao fado.