Envolvi-me há dias, no Horas Extraordinárias, numa conversa sobre os alemães terem ou não humor. A propósito de se brincar com coisas sérias, dei o exemplo da série «'Allo 'Allo», muito apreciada em Portugal, mas incompreendida na Alemanha (e, segundo ouvi dizer, também mal vista em França, mas disso não tenho a certeza). Logo houve quem dissesse que os alemães não têm humor, sendo sobretudo incapazes de se rirem de si próprios, coisa em que nós portugueses, com a nossa boa disposição, somos exímios.
Como sempre, acho que as pessoas caem facilmente em clichés. Para já, nós portugueses não somos nenhuns campeões mundiais em boa disposição e humor fino. Basta lembrar que o fado, um poço de melancolia e saudade, é a música que melhor nos caracteriza. E que a maioria dos nossos compatriotas gosta é de humor grosseiro, nada subtil.
Por outro lado, os alemães têm excelentes humoristas e desde meados dos anos 1990 tem-se vindo a desenvolver a stand-up comedy. Também a figura de Hitler tem servido a comicidade e a paródia, seja na literatura (Ele Está de Volta), seja no cinema, com o filme Mein Führer – Die wirklich wahrste Wahrheit über Adolf Hitler, do realizador Dani Levy e com Helge Schneider no papel principal, um artista multifacetado com um humor muito nonsense.
Mas os clichés têm sempre um fundo de verdade. E, pensando nos meus sogros alemães, já falecidos, recordo que eles tinham dificuldade em entender os novos humoristas. As gerações mais antigas não encontravam realmente grande espaço para alguns tipos de humor, apreciavam maioritariamente trocadilhos inofensivos de palavras. E tinham problemas em entender a ironia.
Penso que parte da explicação estará em Martinho Lutero. Metade dos alemães são luteranos, a outra metade é católica. Ao desprezar o Carnaval e todas as atividades
relativas ao Entrudo, Martinho Lutero terá acabado com o sentido de humor de
muitos alemães. Ainda hoje os alemães do Norte, maioritariamente luteranos, continuam a abominar festejos carnavalescos, enquanto em muitas regiões do Centro e do Sul, de maioria católica, se goza o Carnaval. É um Carnaval diferente do nosso, mas com muita tradição, centrada na figura do "bôbo da corte", com barrete de guizos e tudo, e onde impera a piada política. Também se fazem cortejos, sendo os mais famosos os de Colónia e Mainz (Mogúncia). Na Baviera, até há figuras que me fazem lembrar os caretos transmontanos de Podence! Já me perguntei de onde virá essa parecença, seria algo interessante de pesquisar.
O Carnaval alemão pode parecer estranho aos portugueses. Também eu, nos primeiros anos que aqui passei, achei que não era Carnaval "a sério". Depois, dei-me conta de que esse meu preconceito se devia à ausência de sambas, batuques e bailarinas em biquini e tomei consciência de que o problema está em nós nos termos habituado a um Carnaval "abrasileirado". Passei então a admirar mais a tradição alemã, que se mantém genuína, com bôbos, caretos e disfarces.
Mas tudo isto para dizer que Martinho Lutero bem pode ter sido o responsável pela perda da
capacidade humorística de muitos alemães. Felizmente, estão a recuperá-la.
Excelente texto, importante para combater estereótipos. Acrescento apenas um pormenor: a minha geração, pelo menos a de origem rural, distingue entre Entrudo e Carnaval. O primeiro tradicional, grosseiro, popular, mas genuíno, o segundo abrasileirado.
ResponderEliminarÉ verdade, a tradição está no Entrudo. Não sei a origem da palavra Carnaval, nem quando foi introduzida, mas penso que surgiu ligada ao Entrudo já há muito tempo.
ResponderEliminarBem Cristina, lendo rapidamente vosso texto nota-se o embaraço de pensamento Filosófico e nuances mitologicas e a princípio a austeridade germânica constituída a partir do modelo gótico medieval onde a criatividade de grandes organistas desenvolveram a habilidade sensível de satisfação e autonomia, anterior a este período os alemães eram simplorios pastores.
ResponderEliminarCom relação o"entrudo" convém você estudar melhor e creio que já o deveria tê-lo feito a nível de satisfação a vossa pesquisa, pois este contexto estima do complexo e estende-se a cultura do mediterrâneo.
Quanto ao Brasil o Carnaval representa a diversidade da mescla cultural através de elementos associados a natureza de ensinamento básico do "rítmo samba" alimentado a origem mítica do sentido humano.
Quanto a palavra Carnaval bem reparo que vosso conhecimento histórico deixar a desejar, pois este seria também um sobrenome inglês, até estranha-se da danca a ter estudado a respeito de "Carnival" Lord Carnnival o arqueólogo.
Cláudia, não sei se, antes disso, os alemães eram apenas simplórios pastores. Eram rústicos, sim, mas lembre-se que toda a sociedade medieval se baseava muito na estrutura social das tribos germânicas. E recordemos os grandes imperadores Frederico I Barba Ruiva e Frederido II, nos séculos XII e XIII.
ResponderEliminarNote, por favor, que não quis diminuir o Carnaval brasileiro. É um dos carnavais mais bonitos do mundoe talvez o mais famoso. Só censuro o facto de o Entrudo português ter perdido bastante da sua identidade. Ter adotado o Carnaval brasileiro, por outro lado, só vem comprovar o carisma do mesmo.
Certamente estamos a comentar "status" diferenciados da sociedade medieval e se, de algum modo houve integração social de tribos germânicas (neste período) a Europa estendia o conhecimento institucionalizado e a religião notadamente não eram a tribos mas, ao(s) reino(s) a normandia a germania e saxoes vigoraram a redimensionar no sentido filosófico a herança de imperadores romanos.
ResponderEliminarEm vez de "tribos", eu deveria ter dito "povos germânicos" e também "nórdicos". Nem todos eram originários da região que hoje conhecemos como Alemanha, muitos vinham da Escandinávia. Espalharam-se pela Europa e deram origem àquilo que chamamos Idade Média, também na Península Ibérica, com Visigodos e Suevos. Foram os grandes responsáveis pela cristianização.
ResponderEliminarNa sua maioria eram, porém, campnoneses e pastores analfabetos. Comparando a sua cultura com outras da época (com a árabe, por exemplo), podemos apelidá-los de rústicos, "primitivos".
O conceito de humor varia tanto ao longo dos tempos... Será que os nossos avós gostariam do humor à Gato Fedorento? Ou prefeririam o Menino Tonecas?
ResponderEliminarE, tal como varia ao longo dos tempos, varia geograficamente. Dos alemães que conheço não lhes identifico qualquer sisudez, antes acharem mais graça a coisas que eu não acho e vice-versa...
É verdade, varia muito, Vespinha :)
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