Cheguei
a este pequeno livro por acaso. Foi-me oferecido pelo meu marido, por sua vez, atraído
pelo título e pela capa. Sobre o autor, Phillip Keller, não encontrei muito na
internet, a não ser que nasceu no Quénia, em 1920, filho de missionários
(brancos), e que escreveu vários pequenos livros sobre a religião cristã,
nomeadamente, sobre como encontrar Deus na Natureza, tendo, por base, a sua
profissão de pastor. Também foi fotógrafo do mundo animal.
Neste pequeno livro,
não obstante as, por vezes, fastidiosas lições sobre a Bíblia, nota-se o enorme
respeito que Phillip Keller votava à Criação Divina. Através da sua relação com
a cadela pastora Lass, uma Border Collie,
o autor faz um paralelo com a relação entre Deus e os humanos.
O
livro cativou-me pela sua ternura. Phillip Keller, com vinte e poucos anos,
acabava de se mudar de África para uma região inóspita do Canadá, na costa
oeste, e adquirira um rebanho. Na sua procura por um bom cão pastor, deu com
uma Border Collie mal tratada, num
exíguo pátio de traseiras, na cidade mais próxima. A cadela, com
cerca de dois anos, era mantida acorrentada por os seus donos não saberem lidar
com a sua energia. Quando a soltavam, ela corria e atacava
tudo o que se movesse, incluindo crianças de bicicleta.
Embora
Lass o recebesse agressiva, Phillip Keller ficou com ela, mais por piedade do
que por convencimento de que o animal lhe pudesse ser útil. E quase se
arrependeu. Lass estava tão traumatizada, desconfiava tanto de humanos, que
parecia impossível fazer algo dela. Manteve-a igualmente presa, durante algum
tempo, para que ela não fugisse, mas Lass recusava-se a comer. Quando começou a
ficar perigosamente magra, o dono soltou-a… E ela desapareceu na floresta.
Phillip
procurou-a durante dias, perguntou nas quintas das redondezas… Em vão. Até que a
viu no cimo de um rochedo, observando-o com as suas ovelhas. Levou-lhe comida, mas
ela logo tornou a fugir. Phillip deixou a tijela da comida em cima do rochedo e
constatou, na manhã seguinte, que estava vazia. Na sua sensibilidade,
compreendeu que nada deveria forçar: ou Lass vinha ter com ele de forma
voluntária, ou nada feito. Todos os dias ia deixar comida ao rochedo e todas as
manhãs dava com a tijela vazia.
Um dia, estando a observar o pôr-do-sol no mar, no cimo de uma escarpa, com as ovelhas à sua volta, sentiu um narizito canino, muito tímido, a tocar nas suas mãos, atrás das costas. Phillip Keller designa esse momento como um dos mais bonitos da sua vida. E eu classifico essa cena como uma das mais comoventes que já li! Pela paciência revelada pelo humano e pelo ganhar de confiança de uma criatura traumatizada. Um momento, apenas, um toquezinho, que nos marca para sempre.
Um dia, estando a observar o pôr-do-sol no mar, no cimo de uma escarpa, com as ovelhas à sua volta, sentiu um narizito canino, muito tímido, a tocar nas suas mãos, atrás das costas. Phillip Keller designa esse momento como um dos mais bonitos da sua vida. E eu classifico essa cena como uma das mais comoventes que já li! Pela paciência revelada pelo humano e pelo ganhar de confiança de uma criatura traumatizada. Um momento, apenas, um toquezinho, que nos marca para sempre.
Phillip
e Lass tornaram-se grandes amigos, revelando-se a cadela indispensável para o
sucesso da quinta. Além de guardar e defender o rebanho de animais selvagens,
Lass era exímia em reunir as ovelhas, que se espalhavam, ou se perdiam, nas
redondezas, aprendendo a interpretar todos os comandos e sinais que o dono lhe
transmitia.
Claro que esta linda história de amizade me encantou. Para o próprio autor,
o mais importante foi, nas suas palavras, «o que Deus lhe ensinou através do trabalho
com esse animal maravilhoso». O paralelo que ele estabelece com a relação entre
Deus e os humanos, e que não é de desprezar, está bem patente nesta passagem:
«Deus depara
connosco, muitas vezes, como eu deparei com Lass: no local errado, presos em fanatismo
e teimosia, caídos em mãos erradas e mal tratados por um amo sem coração.
Esta
importante verdade espiritual foi-me revelada naquela tarde, em que fui buscar
a Lass, enquanto a dona não parava de reclamar sobre o comportamento mentecapto da
sua Collie. Ela não fazia ideia do
que um animal tão maravilhoso precisava, a fim de revelar as qualidades que lhe
permitiam desempenhar uma atividade específica. Nada sabia, nem estava
interessada em saber, sobre o desperdício de tão grande potencial daquela
criatura de Deus.
A
cadela, presa pela corrente e encolhida no pó, tornou-se, para mim, na imagem
do destino de tantos homens e mulheres, que estarão dotados de qualidades
específicas, mas que se encontram nas mãos erradas. Pessoas presas no desespero
dos anos e das oportunidades perdidos».
Mesmo os
leitores que abominam qualquer religiosidade hão de ver a beleza de sentimentos incluída nestas
palavras…
Nota:
li o livro em alemão, com o título Was
mein Hirtenhund mich lehrte, sendo a tradução do excerto de minha autoria. A versão
inglesa pode ser adquirida na Amazon.
Por acaso, gosto mais da capa alemã, que apresenta uma verdadeira Border Collie:
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