Judas, por Carl Heinrich Bloch |
No seu
livro Judas, Amos Oz dá uma nova
explicação para o comportamento do apóstolo, através do estudante Schmuel
Asch, a personagem principal (link
em alemão). Schmuel Asch possui a firme convicção de que Judas tanto amou e acreditou
em Jesus, que estava à espera que ele descesse da cruz, provando que, de facto,
era Deus. Ao constatar que tal não aconteceu, enforcou-se.
É
curioso constatar que em Bad Gandersheim, uma
pequena cidade alemã, se pode assistir a uma peça de teatro, da autora holandesa
Lot Vekemans, igualmente sobre a interpretação do comportamento de
Judas. A peça, que dura hora e meia, consiste num monólogo do próprio Judas.
Numa entrevista à KirchenZeitung,
Christian Schramm, um estudioso da Bíblia, fala dela.
O
teólogo chama a atenção para o facto de que, na Bíblia, há muito poucas
informações sobre Judas e rigorosamente nenhuma sobre os motivos que o teriam
levado a entregar Jesus. E, na verdade, a entrega foi crucial para que os
planos de Deus, anunciados pelo próprio filho, se concretizassem, ou seja, se
Judas não o tivesse traído, ele não teria morrido na cruz, salvando a
humanidade.
Christian
Schramm evidencia a contradição existente na Bíblia: o próprio Cristo anuncia
que tem de cumprir o caminho que lhe foi destinado, mas, ao mesmo tempo, condena-se
quem o entrega. Talvez por isso, na peça, Judas pergunte aos espetadores: não
estão contentes por eu ter feito o que fiz?
Um outro
aspeto focado na peça é o político: Judas terá ficado profundamente desiludido,
ao constatar que o Messias, afinal, não pretendia resistir aos opressores
romanos. A Bíblia não menciona este aspeto, mas Judas parece ter pertencido ao
grupo daqueles que estariam dispostos a lutar contra as forças ocupantes.
Christian Schramm põe mesmo a hipótese de se terem juntado vários desses apoiantes, muitos deles, armados. Judas terá
insistido com o Messias para que agisse. A desilusão teria provocado a traição.
O
monólogo de Judas não representa uma defesa dos seus atos, é mais uma tentativa
de explicação, porque, afinal, no Evangelho, não temos a sua perspetiva. O seu
comportamento é-nos apresentado e comentado por terceiros.
Nota:
não sei se o livro de Amos Oz já existe em Portugal. Pesquisando na internet, só
encontrei, na Amazon, uma versão
«em português do Brasil».
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