Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

26 de novembro de 2015

De Nome, Esperança


Gostei muito do estilo da escrita de Margarida Fonseca Santos, que, mais do que ações, nos transmite emoções, rico em termos estilísticos, sem ser complicado. Também gostei do tema abordado: uma mulher extremamente inteligente, mas com uma doença psicológica que a impede de usar as suas capacidades anormais de redigir e decorar textos. Por acaso, há alguém que descobre algum do seu talento, numa altura em que Esperança trabalha como empregada de limpeza na redação de um jornal e prontamente a promove a revisora. Ninguém sabe, porém, que ela igualmente escreve os seus próprios textos, ela não os mostra. E ainda salva um jornalista que perdeu o texto de uma notícia importante, pois Esperança já o tinha corrigido e reescreve-o, palavra por palavra, recorrendo à sua memória prodigiosa. Uma outra notícia, porém, de um desastre mineiro, põe-na em contacto com o seu trauma de infância e ela sofre tão grande recaída, na sua esquizofrenia, que tem de ser internada.

O romance mostra-nos, de forma muito sensível, o dilema da vida destas pessoas que se veem impedidas de fazer uma vida normal, para já não falar de uma vida de sucesso, mas também o desespero de quem as acompanha e se apercebe das suas capacidades. E fico-me por aqui, pois quiçá já tenha revelado demais sobre o enredo.

Porém, se o estilo de Margarida Fonseca Santos é agradável, a maneira como constrói o romance, na minha opinião, não o é. O enredo é contado em episódios curtos, sem qualquer ordem cronológica, o que aliás se ultrapassa facilmente. Já o facto de a autora constantemente mudar de narrador, mas o fazer sempre na primeira pessoa, dificulta muito a compreensão e acaba por prejudicar a leitura. Quando o leitor está muito interessado no destino de Esperança e começa novo episódio, com outro narrador, mas sem fazer ideia de quem "fala", é bastante confuso e irritante. E, quando se apercebe qual a personagem em foco, tem de voltar meia página atrás, a fim de perceber melhor o evoluir da situação. Acontecendo isto constantemente, a leitura acaba por ser muito prejudicada. Penso que não tirei todo o proveito do romance precisamente por causa disso. E tive pena.


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