Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

4 de novembro de 2015

O choradinho do costume


Será difícil explicar o que é ser português, porque, desde sempre, fomos um povo com tendência para nos espalharmos pelo mundo, adaptando-nos a outras formas de vida?

É sem dúvida interessante a série que o canal franco-alemão ARTE tem vindo a transmitir: os países europeus explicados pelos seus próprios escritores. A minha satisfação foi grande, quando chegou a vez de Portugal, com a participação de quatro grandes vultos da literatura lusófona: Lídia Jorge, Mário de Carvalho, Gonçalo M. Tavares e Mia Couto.

Confesso, no entanto, que fiquei desiludida. Não tanto com os escritores, mas com o tom do documentário que optou por um caminho já desgastado: um povo extraordinário, capaz de se adaptar a qualquer país do mundo e a qualquer situação, mas muito sofredor, com muito azar, ao ver-se constantemente subjugado. Primeiro, foi a ditadura salazarista; agora, é a Europa!

Mário de Carvalho expressou a convicção (ou o desejo?) de que uma revolta estaria para breve, uma revolta que, como sempre, surgiria de surpresa. E este escritor, assim como Gonçalo M. Tavares, ainda referiram que não deveríamos ser o único povo do mundo a sentir isto e aquilo, outros povos sentiriam de maneira semelhante, em situações semelhantes… Não me digam!

A participação mais interessante, na minha opinião, foi a de Mia Couto, que referiu que a problemática da colonização está longe de resolvida. Chegou ao ponto de dizer (penso que foi ele) que a famosa expressão de Fernando Pessoa, «a minha pátria é a língua portuguesa», pode soar colonialista, aos ouvidos dos naturais dos países lusófonos. Ora, cá está alguém que propõe ruturas, novos temas de debate, gostei! Por seu lado, Lídia Jorge embarcou perfeitamente no espírito do documentário, amaldiçoando a ditadura e a Europa, que abafa tão valoroso povo!

Senti-me desconfortável. Vivo no estrangeiro há 23 anos, regozijo-me por poder assistir a um programa sobre o meu país, com a participação da nata da nossa literatura, e afinal lá vem a ladainha dos desgraçadinhos, constantemente impedidos de mostrarem o que valem…

Enfim, é o que temos!

O programa, em francês, está aqui disponível até ao dia 20 de Dezembro:



2 comentários:

  1. Olá Cristina!

    Não vi ainda o decomentário, mas, não podia concordar máis com as suas palavras!
    De qualquer das formas, não desespere, existem ainda muitos portugueses que não veem só ameaças cá dentro e lá fora, não senhora, veem sim oportunidades e tentam maximizar os pontos fortes que possuem!

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  2. Olá Ana Paula!

    Sim, eu sei que há muitos portugueses como diz. E ainda bem :)
    No fundo, e como digo no post, acredito que os escritores foram um pouco vítimas do estilo do documentário. Limitaram-se a responder às perguntas que lhes fizeram. Além disso, coube à realizadora (neste caso, foi uma realizadora) usar as declarações que lhe convieram, cortando outras.

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