«Se não deixas de me martirizar, suicido-me, em frente ao altar da igreja e, na minha mão, estará uma carta que te responsabiliza pelo meu ato» - estas palavras foram ditas por um jovem filho ao próprio pai.
O
filho, hoje com setenta anos, é um escritor alemão de romances históricos; o
pai era um pastor (padre) protestante; o suicídio seria na igreja onde este
rezava missa; a história é verídica. Tilman
Röhrig, o escritor que felizmente não se suicidou, porque a ameaça
funcionou, participou num documentário do ARD, o primeiro canal alemão, sobre o
uso de violência na educação de crianças.
Tilman
Röhrig não teve pejo em revelar os suplícios por que passou, tareias de chicote
e de cinto, que lhe deixavam as costas em sangue. Mas não foi só ele, outras
pessoas, nascidas no pós-guerra (anos 40 a 60) não recearam encarar a verdade
em público. E fica-se com um nó na garganta, quando se veem homens e mulheres,
de cinquenta, sessenta ou setenta anos, a regressarem às casas da sua infância
(já lá não iam há décadas, por as casas terem deixado de pertencer às famílias),
para logo ficarem embargados, de lágrimas nos olhos. Uma mulher chorou mesmo
copiosamente. Aqueles lugares só lhes trazem recordações dolorosas. E não se
trata de órfãos, criados num lar, sujeitos a sevícias, trata-se de pessoas
criadas no seio de uma «família tradicional».
A
frase que serve de título a este post
é a tradução de um provérbio alemão - wer
seine Kinder liebt, der züchtigt sie - um provérbio que justificou (e
talvez ainda justifique) violências inenarráveis. Também o pastor protestante,
pai de Tilman Röhrig, pensava que estava a fazer bem, baseado inclusive no
Antigo Testamento, que prevê o exercer de violência sobre os filhos para lhes expulsar
o «mal» do corpo! Por isso, o escritor deixou de odiar o pai (porque o odiava
mesmo, na altura que ameaçou com o suicídio, tinha apenas 16 anos). Sim,
conseguiu deixar de o odiar. Mas perdoar… Não! «Coisas dessas não se conseguem
perdoar» - diz ele hoje, porém, não com uma expressão de revolta, ou de rancor,
antes com um sorriso… um sorriso triste.
Tilman
Röhrig é conhecido pelos seus romances históricos, mas o seu primeiro sucesso
literário foi um livro sobre um rapaz de catorze anos, vítima de violência por
parte dos pais.
Todas
as pessoas que, no documentário, se prestaram a contar a sua história, são pais
e/ou avós e declararam-se contra qualquer tipo de violência sobre as crianças.
Alguns, que confessaram ter-se descontrolado uma vez na vida com os filhos, ficaram
tão mortificados e arrependidos, que juraram que nunca mais o fariam. E
cumpriram!
Em baixo, o vídeo do documentário. É só para quem sabe alemão, mas resolvi pô-lo aqui, como prova das minhas palavras:
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