Este romance começa com a Revolução de 28 de Maio de 1926 (que
pôs termo à Primeira República Portuguesa, implantando-se uma Ditadura
Militar, depois autodenominada Ditadura Nacional e por fim transformada, após a
aprovação da Constituição de 1933, em Estado Novo) e termina com a Revolução
dos Cravos. O leitor toma contacto com Salazar, um catedrático da Universidade
de Coimbra, que se torna Ministro das Finanças da Ditadura Militar e, como
todos sabemos, acaba como chefe do governo do Estado Novo. Salazar e outros
amigos e colaboradores, incluindo o cardeal Cerejeira, são-nos apresentados nos
serões de outro catedrático, Leandro de Albuquerque, entrando assim o leitor
numa certa intimidade dessas personagens.
Na casa do Professor Leandro de
Albuquerque crescem duas crianças: Mariano, filho biológico do catedrático, e
Mariana, filha adotiva, que ficou órfã de pai ainda antes de nascer, depois de
mãe, e cuja família era vizinha dos Albuquerque. Não se pense, porém, que houve
apenas altruísmo no ato de adoção. Leandro de Albuquerque desconfia ser o pai
da rapariga, pois tivera um caso com a mãe dela.
Mariano e Mariana desenvolvem carácteres
muito diferentes. Ele é o filho obediente que se torna padre e defensor do
regime. Nesta atitude, contudo, encontramos mais ingenuidade do que ideologia
fascista. Mariano acredita nas boas intenções de Salazar em proteger o povo
português. Ele próprio tenciona ajudar essa gente pobre, que trabalha de sol a
sol, participando nas atividades de lavoura da sua paróquia, uma pequena localidade
do interior, o que aliás causa estranhamento aos seus habitantes. Com o passar
dos anos, porém, Mariano apercebe-se dos verdadeiros contornos da ditadura, o
que o revolta.
Achei esta personagem muito interessante, porque, na verdade, ao tempo do Estado Novo, os portugueses não se dividiam exclusivamente entre os que eram contra e a favor da ditadura. Havia uma grande parte da população conivente com o regime devido à ignorância ou à ingenuidade, facto que me parece pouco explorado na literatura nacional.
Mariana é rebelde desde o início, leva
uma vida libertina, contesta a ditadura e acaba por ser expulsa da casa dos
Albuquerque. Instala-se numa pequena quinta que herdou da mãe, mas a sua
cooperação em atividades consideradas subversivas leva-a a Caxias.
António Breda dá-nos assim um retrato do
Estado Novo. Na minha opinião, contudo, depois de uma primeira metade excelente,
o romance envereda, na segunda metade, por um enredo menos empolgante, pois, na
fase de destruição das ilusões dos protagonistas, confesso que esperava outro
tipo de atitude por parte deles. Enfim, talvez assim esteja mais em conforme
com a vida real…
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