Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

12 de dezembro de 2016

Batalha de Alvalade

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Depois das Cortes de Lisboa, em Outubro de 1323, em que as pretensões do príncipe herdeiro foram desleixadas, este retirou para Santarém, reunindo os seus apoiantes e decidido a apoderar-se do trono à força, conquistando Lisboa.




Auxiliado pelos filhos bastardos Afonso Sanches e João Afonso, Dom Dinis tomou posição no campo de Alvalade (ou, segundo José Mattoso, no lugar chamado Albogas, perto de Loures).

Estava tudo a postos para a batalha final da guerra civil, quando esta foi impedida por intervenção de Dona Isabel.

Isabel - Batalha Alvalade.jpg
Imagem daqui



Relato de Dom Gonçalo Pereira, bispo de Lisboa:

«Vieram acordar-me a meio da noite, disseram-me que a rainha se encontrava ali no meu paço e me queria falar. Disse-me:
- Dom Gonçalo, temos de impedir a batalha prestes a acontecer no campo de Alvalade, pois saldar-se-á num horrível banho de sangue! Estava eu a meio das minhas rezas, quando Deus me fez ver a desgraça: os corpos mutilados, os gritos desesperados dos feridos… E uma voz suplicou-me que me interpusesse entre os dois exércitos, acompanhada do mais alto representante de Deus que pudesse encontrar. Aqui em Lisboa sois vós, eminência!
- Mas que podemos nós os dois fazer contra dois exércitos, minha santa senhora? Sem armas, sem soldados que nos acompanhem… Seremos chacinados!
Ela replicou, cheia de serenidade:
- A voz garantiu-me que nada nos sucederá, se levarmos esta cruz!
Mostrou-me o objeto que os seus criados transportavam e, quando me admirei do tamanho, ela replicou que era para ser vista ao longe.
Ainda me recordo de pensar que Dona Isabel teria endoudecido, quando senti uma força misteriosa apoderar-se de mim! Parecia vir do brilho dos olhos da rainha, uma força que me impedia de a contradizer. Fizemo-nos ao caminho, no escuro da noite fria, acompanhados apenas pelos serviçais que transportavam a cruz e as lanternas. Ao acercarmo-nos do campo de batalha, já ao nascer do sol, Dona Isabel disse que só eu e ela estaríamos protegidos das setas pelas forças divinas, os criados teriam de procurar abrigo. Eu retorqui que, na minha idade, jamais conseguiria carregar com uma cruz daquelas, mas ela disse:
- Pegai nela, Dom Gonçalo, e vede como Deus a faz leve!
E tinha razão! Logrei pegar na cruz e erguê-la! Se não o houvesse experimentado, nunca acreditaria. Mas ainda perguntei à rainha:
- E quem guiará o meu cavalo? Fico sem mãos livres para as rédeas…
- Deus - respondeu ela. - Tende Fé, eminência!
A minha montada seguia a de Dona Isabel como se realmente alguma força a guiasse, nem sequer se assustava com a zoada das setas, que voavam em arco por cima de nós. O mesmo não se podia dizer de mim. Confesso que nunca senti tanto medo na minha vida e bradei para a rainha:
- Morreremos, é o nosso fim!
- Fechai os olhos, Dom Gonçalo, e rezai!
- Fechar os olhos? Mas como saberei para onde ir?
- Rezai, Dom Gonçalo, e confiai em Deus!
Obedeci, nada mais me restava. E dei por mim com a cabeça encostada à cruz, a confessar os meus pecados, suplicando absolvição, tão convencido estava que chegara a minha hora. Não faço ideia quanto tempo assim estive, só sei que dei conta do silêncio que se havia apoderado de todo o campo. O meu cavalo parou, sem que lhe houvesse dado qualquer ordem. Abri os olhos e vi os vossos cavaleiros e os do príncipe virem ao nosso encontro. Chegaram no momento certo, pois comecei a tremer violentamente e a cruz pôs-se-me de repente tão pesada que, não fossem eles, tê-la-ia deixado cair ao chão. E só deixei de tremer aqui na vossa tenda».

Não foi, porém, estabelecido nenhum acordo de paz. A pedido da mãe, o príncipe terá concordado em desistir dos seus intentos, mas declarando que não mais desejaria falar com o pai, nem encontrar-se com ele, pelo que retirava para Santarém.

Dom Dinis, no entanto, dirigiu-se àquela cidade, em Fevereiro de 1324, sofrendo grande humilhação, quando as portas se lhe mantiveram fechadas. Houve duros combates, mas conseguiu-se um acordo entre o rei e o príncipe a 26 de Fevereiro. Dom Dinis comprometeu-se a aumentar as rendas do filho e a retirar o cargo de mordomo-mor ao bastardo Afonso Sanches.

Dom Dinis morreria a 7 de Janeiro de 1325, dia em que seu filho Afonso foi aclamado rei de Portugal, o quarto desse nome.

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