Depois dizem-me que ser feminista é uma coisa datada? Tenham paciência - escreveu Patrícia Reis, numa crónica publicada a 15 de Outubro. Embora a escritora se refira ao facto de os salários das mulheres serem, ainda hoje, 21,8% inferior aos dos homens, a frase assenta que nem uma luva no caso do acórdão da Relação do Porto sobre violência doméstica.
O
feminismo é ainda muito necessário, sim! Mas o conceito não sofre apenas do
problema de muita gente o achar datado. Sofre igualmente de um estigma que o apelida de radical e
assusta muitas mulheres. Mafalda Anjos, Diretora da revista Visão, escrevia, numa crónica publicada
no nº 1279: «Sou pouco adepta da paranoia radical na nomenclatura sem género,
mas chamar Ironman a uma competição que admite homens e mulheres parece-me
simplesmente estúpido e anacrónico». Esta frase é de uma contradição brutal!
Infelizmente,
é frequente encontrar expressões deste tipo, entre mulheres: «eu nem sou nada
feminista, mas não acho bem que…»; ou «eu não sou adepta dessas ideias radicais
de igualdade, mas o certo é que…».
Quando
é que as mulheres vão deixar de pedir desculpa e de polir a sua imagem, antes
de expressarem uma opinião? O feminismo possui um historial do qual todas nós
nos devemos orgulhar. As nossas antepassadas lutaram por nós. Não fossem as
feministas, as mulheres não estariam autorizadas, entre outras coisas, a seguir
uma carreira profissional. Nem sequer a votar! As sufraguettes também foram consideradas radicais histéricas, no seu
tempo. E, como vemos, o facto de já possuirmos esses direitos não quer dizer
que o feminismo se tenha tornado obsoleto. Querem melhores exemplos do que a
desigualdade nos salários, ou o minimizar o crime de violência doméstica pelo
facto de uma mulher ter cometido adultério?
A
verdade é que nós mulheres continuamos a ter medo dos homens. Medo de os
desiludirmos, de os chocarmos, medo de não correspondermos às suas
expectativas.
Ainda
não repararam que quem dá, e deu, uma imagem radical do feminismo foram/são os
homens? E que nós continuamos a cair na armadilha? O uso da palavra “radical”,
em justificações do género «eu nem sou adepta dessas ideias radicais de
igualdade, mas…», é pura manipulação masculina. A jornalista Mafalda Anjos vai
ainda mais longe e usa a expressão “paranoia radical”! Tirem-na da frase acima citada
e a contradição salta aos olhos!
Quando
vamos deixar de querer ser as meninas bonitas, simpáticas e agradáveis, com
medo de ofender o papá, o irmão, ou o marido, para passarmos a ser humanas em
pleno, com opinião própria, sem medo das palavras?
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