Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

26 de outubro de 2017

O Estigma do Conceito de “Feminismo”



Depois dizem-me que ser feminista é uma coisa datada? Tenham paciência - escreveu Patrícia Reis, numa crónica publicada a 15 de Outubro. Embora a escritora se refira ao facto de os salários das mulheres serem, ainda hoje, 21,8% inferior aos dos homens, a frase assenta que nem uma luva no caso do acórdão da Relação do Porto sobre violência doméstica.

O feminismo é ainda muito necessário, sim! Mas o conceito não sofre apenas do problema de muita gente o achar datado. Sofre igualmente de um estigma que o apelida de radical e assusta muitas mulheres. Mafalda Anjos, Diretora da revista Visão, escrevia, numa crónica publicada no nº 1279: «Sou pouco adepta da paranoia radical na nomenclatura sem género, mas chamar Ironman a uma competição que admite homens e mulheres parece-me simplesmente estúpido e anacrónico». Esta frase é de uma contradição brutal!

Infelizmente, é frequente encontrar expressões deste tipo, entre mulheres: «eu nem sou nada feminista, mas não acho bem que…»; ou «eu não sou adepta dessas ideias radicais de igualdade, mas o certo é que…».

Quando é que as mulheres vão deixar de pedir desculpa e de polir a sua imagem, antes de expressarem uma opinião? O feminismo possui um historial do qual todas nós nos devemos orgulhar. As nossas antepassadas lutaram por nós. Não fossem as feministas, as mulheres não estariam autorizadas, entre outras coisas, a seguir uma carreira profissional. Nem sequer a votar! As sufraguettes também foram consideradas radicais histéricas, no seu tempo. E, como vemos, o facto de já possuirmos esses direitos não quer dizer que o feminismo se tenha tornado obsoleto. Querem melhores exemplos do que a desigualdade nos salários, ou o minimizar o crime de violência doméstica pelo facto de uma mulher ter cometido adultério?

A verdade é que nós mulheres continuamos a ter medo dos homens. Medo de os desiludirmos, de os chocarmos, medo de não correspondermos às suas expectativas.

Ainda não repararam que quem dá, e deu, uma imagem radical do feminismo foram/são os homens? E que nós continuamos a cair na armadilha? O uso da palavra “radical”, em justificações do género «eu nem sou adepta dessas ideias radicais de igualdade, mas…», é pura manipulação masculina. A jornalista Mafalda Anjos vai ainda mais longe e usa a expressão “paranoia radical”! Tirem-na da frase acima citada e a contradição salta aos olhos!

Quando vamos deixar de querer ser as meninas bonitas, simpáticas e agradáveis, com medo de ofender o papá, o irmão, ou o marido, para passarmos a ser humanas em pleno, com opinião própria, sem medo das palavras?


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