Não sou contra as diferenças, pelo contrário! Claro que
há diferenças inatas entre meninos e meninas. O problema é que a vida não é
sempre só a preto e branco, tem muitas cores e matizes. Deixando de parte a
homossexualidade (que eu aceito e respeito, mas o cerne da questão, neste caso,
é outro), há meninas que se assemelham a meninos e vice-versa. Se os pais
insistirem muito em clichés
(meninas-princesas e meninos-aventureiros), limitam a liberdade de escolha.
Ao
educar uma menina para ser princesa e fada do lar, quando o que ela quer mesmo
é ser jogadora de futebol, está programado o sofrimento de uma das partes (pais
ou filha). E se um menino quiser ser educador de infância? Nem se atreve a
expressar esse seu desejo.
Todos devem ter liberdade de escolha, sem preconceitos. Os
famigerados blocos da Porto Editora (que regressaram às livrarias) reforçam os clichés, ou seja, limitam o espaço de
manobra, o poder de escolha. Não adianta apregoar que há liberdade, quando os
pais e educadores manipulam as crianças para que elas sejam aquilo que eles
desejam. Um rapaz que deseje ser educador de infância deve ser elogiado,
em vez de ridicularizado, ou pressionado de modo a levá-lo a desistir. Tratar
de e educar crianças é do mais nobre que há. É, por exemplo, um grande erro pôr
essas tarefas nas mãos de babás ignorantes, só porque são mulheres. Uma
rapariga também não deve ser desviada do seu caminho, se desejar ser jogadora
de futebol, ou condutora de autocarro.
Penso que seria uma boa solução comprar os dois blocos da
Porto Editora, tanto para uma rapariga, como para um rapaz. Era o que eu faria,
se tivesse filhos e eles se interessassem pelos blocos, porque dizer-lhes que
não prestavam, só lhes alimentaria a curiosidade. Compraria os dois e dava aos
filhos liberdade de escolher com quem se identificassem mais. Não lhes impunha
uma identidade, do género: tu és menina, tens de gostar de princesas e vestidos
cor-de-rosa, em vez de brincares com camiões, barcos, ou dares pontapés numa
bola. Por outro lado, se ela preferisse realmente a princesa cor-de-rosa, é
claro que não a contrariava. O importante seria que a escolha viesse dela.
Muita gente não sabe, ou não quer, definir corretamente o
conceito de igualdade. De um lado, está quem jura que meninos e meninas nascem
exatamente iguais, com os mesmos gostos e desejos; do outro, está quem receia
que, à custa de tanta igualdade, qualquer dia, não haja homens nem mulheres. São
posições extremistas, nunca de aconselhar.
A
verdadeira igualdade existe na diferença, há que pôr a dignidade humana acima
de tudo. Porque haveremos nós de considerar algumas características (masculinas
ou femininas) superiores a outras? Porque tem mais valor saber construir uma
casa do que amamentar um bebé? Porque tem mais valor ser um matemático
brilhante do que ser uma boa enfermeira? Porque é considerado superior ser
diretor de um banco em relação a mudar fraldas e contribuir para que uma
criança cresça feliz? Não é a igualdade física, ou dos interesses, ou mesmo a
intelectual, que é importante. Cada um tem o seu talento e as suas capacidades,
independentemente de ser homem ou mulher. A dignidade do ser humano deve ser respeitada,
em todos os casos, em todas as profissões, em ambos os sexos.
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