Todos sabemos que, a não ser talvez em alguns casos de
um maior fanatismo religioso, ninguém se impressionou com o conteúdo desta
encíclica, nem mesmo as mais conservadoras mães de família, frequentadoras da
igreja.
O conteúdo é também mais ou menos conhecido, mas, ao
ler um artigo sobre ele, chamou-me a atenção uma pequena passagem, que confirma
três características da Igreja Católica (e que, mau grado os esforços do Papa
Francisco, ainda hoje se mantêm): machismo, um total desconhecimento da vida em
comum entre homem e mulher por parte de senhores (alegadamente) celibatários e
uma grande hipocrisia.
A passagem em questão é a seguinte (e estou a traduzir
do alemão): “o homem pode perder o respeito pela mulher, já que esta passa a
estar sexualmente disponível em qualquer momento”!
A maior evidência machista é o facto de aos senhores
bispos e cardeais nem sequer passar pela cabeça que também a mulher pode tirar
proveito da pílula. Não! A pílula, embora tomada pela mulher, só serve para que
os homens possam ter relações sexuais quando muito bem lhes apetecer!
A ignorância da vida em comum, aliada à hipocrisia, assenta
na crença, ou no princípio, de que os homens sempre respeitaram as mulheres antes
do surgimento da pílula! Não sei se ria, se chore. Todos sabemos que a mulher sempre foi um
objeto sexual para o homem, mesmo dentro do casamento.
À altura do meu nascimento, ainda se vivia em ditadura
e a minha família era extremamente católica. Ora, eu sempre ouvi dizer às
minhas duas avós que a mulher devia obedecer ao homem, mesmo na cama. A mulher
não se devia recusar ao homem, cabia-lhe cumprir os seus deveres conjugais,
sempre que a ele (e só a ele) lhe apetecesse.
Então como ficamos, senhores bispos e cardeais? Afinal, os
homens sempre contaram com as suas esposas estarem sexualmente disponíveis,
com ou sem contracetivos. Sejam lá sinceros: nunca nenhum de vocês acreditou
realmente que os homens só quisessem fazer sexo para serem pais, concedendo à mulher
a oportunidade de ser uma mãe extremosa, pois não? E já agora acrescento: se os
homens apenas respeitavam as mulheres pela possibilidade de se tornarem mães, não as respeitavam de
todo como ser humano.
Porque aí é que está a questão: o homem respeitar a
mulher como ser humano. Tal atitude é imune a qualquer pílula.
Dir-me-ão que me ocupo com coisas antigas,
ultrapassadas. Pois, até hoje, não houve nova encíclica a desmentir a Humanae Vitae! Tal como antigamente, e
em certos aspetos, a Igreja parece que se limita a “brincar às casinhas”.
Adenda: entretanto, fui espreitar a passagem na versão portuguesa (da wikipedia):
É ainda de recear que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito pela mulher e, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada.
Adenda: entretanto, fui espreitar a passagem na versão portuguesa (da wikipedia):
É ainda de recear que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito pela mulher e, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada.
Sem comentários:
Enviar um comentário