«Soprou-me o vento sobre o barro, assim fez o meu ser,
pés colados à terra, cabeça acima das nuvens. Cozeu-me à sua imagem -
irascível, instável, amigo de larguezas e solidões. Deu-me por brinquedos
imaginação e argila para os moldar - quase sempre aviões, como os que
sobrevoavam as vinhas por onde corria descalço, braços abertos como asas
tentando elevar-me da mediocridade terrena, e embalado nas descidas pulava
barreiras e silvados, e por instantes também eu voava».
Assim se inicia a introdução a esta interessante coletânea de contos. É difícil compreender como um autor que
já ganhou alguns prémios literários continua a ser ignorado pelo mundo editorial
português. Nesta coletânea, encontram-se inclusive três contos premiados (Prémio
Irene Lisboa 2010, Prémio Dr. João Isabel 2010 e 2º lugar no Prémio Dr. João
Isabel 2015), dois que mereceram Menção Honrosa (no Prémio Dr. João Isabel 2010
e no VI Prémio Irene Lisboa) e uma Menção Especial no Prémio Glória Marreiros
2013.
É pena que as editoras não se interessem por contos
que tão bem caracterizam certos aspetos do ser e do viver português e publiquem,
muitas vezes, livros sem interesse nenhum. Ler José C. Catarino é entrar em certos
matizes da alma portuguesa, como já tinha referido em relação aos romances Entre Cós e Alpedriz e Um Amor Inventado. Mas
se os romances nos davam a conhecer a vida na província, em Vento e Barro muitos contos põem-nos em
contacto com a classe média citadina, inculta, interessada apenas em dinheiro e
sexo. Há igualmente lugar para a alegoria, no conto O Velho Défice, Empréstimo, o Rapaz e o Burro PIBE, e para a fábula
em Pirulito, Rimas e a Associação de
Moradores.
Os contos são de leitura aprazível, empolgante, num
estilo que nos pinta imagens à frente dos olhos. A criticar encontro apenas
alguns finais menos bem conseguidos.
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e Barro está disponível na Amazon:
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