Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

24 de outubro de 2018

O Complexo de Portnoy




Embora só agora escreva sobre ele, acabei de ler este livro há mais de dois meses. Além disso, não o tenho comigo, deixei-o em Portugal (em conjunto com outros já lidos), a fim de arranjar espaço para novas aquisições. Não me é possível, por isso, fazer uma análise pormenorizada. Por outro lado, falar de um livro à distância tem as suas vantagens. Não nos perdemos em pormenores, limitando-nos à impressão que fica através dos tempos.

Adorei, embora reconheça que não será um livro para toda a gente. Já constatei que é do tipo de obra que, ou se adora, ou se odeia. Penso que o motivo será a maneira altamente crítica com que o narrador descreve a sua própria família. Além de entrar em pormenores íntimos, mostra o ridículo em muitos comportamentos dos pais, algo que nem todos encaixam facilmente, tão habituados estamos a ver os progenitores como criaturas sem defeitos e a considerá-los algo sagrado, no qual não se toca.

Philip Roth mostra-nos, sem filtro (como agora se costuma dizer), o absurdo na vida familiar, comportamentos que podem levar os filhos a desenvolverem certas peculiaridades comportamentais. No caso de Portnoy, o narrador, trata-se do vício do sexo depravado. Bem, dirão alguns, cada um vive como quer, desde que não prejudique ninguém. É verdade. Mas Portnoy mostra-nos igualmente como este “vício” condiciona a sua vida, a ponto de o levar a fazer coisas que gostaria de evitar, criando-lhe angústias. Como qualquer vício, é um peso nos ombros, do qual ele, por mais que tente, não se consegue livrar.

Tenho lido que este livro retrata a vida de uma família judaica americana. De facto, Portnoy nasce num lar judeu, mas penso que esta caracterização limita muito o alcance da obra. A maior parte daquilo que o narrador nos conta pode passar-se em qualquer família, independentemente da sua religião, ou país. São certos pormenores quotidianos: fraquezas, manias, injustiças, manipulações, que passam de pais para filhos e aos quais costumamos ser cegos.

Enfim, um livro imprescindível.


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