Embora só agora escreva sobre ele, acabei de ler este
livro há mais de dois meses. Além disso, não o tenho comigo, deixei-o em
Portugal (em conjunto com outros já lidos), a fim de arranjar espaço para novas
aquisições. Não me é possível, por isso, fazer uma análise pormenorizada. Por
outro lado, falar de um livro à distância tem as suas vantagens. Não nos
perdemos em pormenores, limitando-nos à impressão que fica através dos tempos.
Adorei, embora reconheça que não será um livro para
toda a gente. Já constatei que é do tipo de obra que, ou se adora, ou se odeia.
Penso que o motivo será a maneira altamente crítica com que o narrador descreve
a sua própria família. Além de entrar em pormenores íntimos, mostra o ridículo
em muitos comportamentos dos pais, algo que nem todos encaixam facilmente, tão
habituados estamos a ver os progenitores como criaturas sem defeitos e a considerá-los
algo sagrado, no qual não se toca.
Philip Roth mostra-nos, sem filtro (como agora se
costuma dizer), o absurdo na vida familiar, comportamentos que podem levar os
filhos a desenvolverem certas peculiaridades comportamentais. No caso de
Portnoy, o narrador, trata-se do vício do sexo depravado. Bem, dirão alguns,
cada um vive como quer, desde que não prejudique ninguém. É verdade. Mas
Portnoy mostra-nos igualmente como este “vício” condiciona a sua vida, a ponto de
o levar a fazer coisas que gostaria de evitar, criando-lhe angústias. Como
qualquer vício, é um peso nos ombros, do qual ele, por mais que tente, não se
consegue livrar.
Tenho lido que este livro retrata a vida de uma
família judaica americana. De facto, Portnoy nasce num lar judeu, mas penso que
esta caracterização limita muito o alcance da obra. A maior parte daquilo que o
narrador nos conta pode passar-se em qualquer família, independentemente da sua
religião, ou país. São certos pormenores quotidianos: fraquezas, manias,
injustiças, manipulações, que passam de pais para filhos e aos quais costumamos
ser cegos.
Enfim, um livro imprescindível.
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