Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

28 de fevereiro de 2019

Como eu escrevo


Li esta interessante entrevista a Fernando Naporano e pus-me a fazer considerações sobre a maneira como escrevo. Saiu este texto:

Escrevo prosa: romances e contos. Levanto-me muito cedo e gosto mais de escrever durante a manhã. De tarde, não tenho ocasião e, ao serão, não consigo ser criativa. O ato de criação é, para mim, muito cansativo e só me sinto apta a ele na frescura da manhã. Ao serão, aproveito para fazer revisões. Revejo inúmeras vezes aquilo que escrevo, no mínimo, dez vezes, algumas passagens ou cenas seguramente vinte ou trinta vezes.

Tento sempre escrever entre duas a três horas seguidas. Menos do que duas horas, não compensa, e mais do que três, não consigo, começo a ficar cansada e vazia.

Para escrever um romance histórico, é claro que tenho de fazer muita pesquisa. Já os contos são ideias que me surgem, não preciso de pesquisar nada. Tenho alguns contos por publicar e muitos mais na cabeça.

Nunca sinto medo de não corresponder às expectativas. Escrevo aquilo que sinto. Quem gosta, gosta; quem não gosta, não gosta.

Com projetos longos, romances de duzentas ou mais páginas, fico um pouco ansiosa. Antigamente, ficava mais, tinha medo de me esquecer de ideias que me surgiam logo no início para o meio ou o fim do texto. Com o tempo, fiquei mais calma, a experiência ensinou-me que essas ideias raramente se perdem. Pelo contrário: à medida que o enredo avança, surgem outras melhores. Às vezes, porém, é difícil parar de escrever, quando penso que ainda tenho mais de cem ou de duzentas à minha frente.

Escrevo seguramente de maneira diferente hoje do que há dez ou vinte anos, quando comecei. Sou mais sucinta e consigo “chamar” melhor os sentimentos. No início, estava bastante bloqueada. Sentia necessidade de escrever, mas, por vezes, não sabia bem o quê. Hoje, identifico mais facilmente.

O conselho que daria a mim mesma, se pudesse recuar, seria o conselho que daria a qualquer principiante: pratica, escreve, sempre, só com a prática se aprende!

Tenho dois grandes projetos que não sei se chegarei a realizar. O primeiro seria um romance sobre a vida de Cristo, com o foco na sua relação com a família. Há passagens da Bíblia que falam em irmãos de Jesus. Como se daria ele com esses irmãos? Há outra passagem em que ele diz que um profeta é reconhecido em todo o lado, menos na sua própria casa. A família desconfiaria da sua sanidade mental? Também é curioso que Jesus nunca se dirija a Maria com a palavra “mãe”, diz sempre “mulher”. Maria foi elevada, pelo Cristianismo, a modelo de mãe ideal e, no entanto, o seu próprio filho nunca a apelida de “mãe”. «Que queres tu, mulher?» pergunta Jesus, quando ela o aborda, nas bodas de Canaã. Tudo isso seriam aspetos da sua vida que gostaria de explorar. De uma maneira geral, interessam-me muito as relações familiares, porque pouco do que as famílias expõem corresponde à realidade. Desconfio, porém, que nunca chegue a realizar este projeto.

O segundo seria um romance que caracterizaria a vida numa aldeia transmontana, ao longo de várias gerações. Ando a pesquisar a minha família e a vida na aldeia-natal do meu pai com esse fito e já constatei que as relações entre as pessoas estão carregadas de violência. De novo, as relações familiares, aquilo que fica escondido, as tragédias que se dão e ninguém consegue explicar (e, no entanto, têm sempre uma explicação, nada do que fazemos é por acaso). Este projeto já me parece mais realizável.


25 de fevereiro de 2019

No Luxemburgo

As Memórias de Dona Teresa podem não estar à venda na Bertrand e na Wook. Mas vão estar com a luxemburguesa Librairie Pessoa, no 19e Salon du Livre et des Cultures du Luxembourg, em 1,2 e 3 de março.




O meu profundo agradecimento à São Gonçalves.

P.S. O livro está à venda em algumas livrarias independentes e online, na loja da editora. Se o procurarem e vos disserem que está esgotado, digam que a própria autora vos afiançou que isso não é verdade!


20 de fevereiro de 2019

Constança - A princesa traída por Pedro e Inês




Foi muito interessante ler um romance sobre D. Constança Manuel, a princesa que casou com D. Pedro I e foi mãe do rei D. Fernando. Tendo o caso amoroso de Pedro e Inês atingido nível de culto no nosso imaginário coletivo, há a tendência para esquecer a esposa traída.

Tudo indica que a princesa se terá apercebido da paixão entre os dois, já que Inês de Castro foi afastada da corte, sendo confinada ao castelo castelhano de Albuquerque, perto da raia portuguesa. Isto será igualmente indício de que Constança terá sofrido com o caso.

Isabel Machado, a autora deste livro, retrata uma Constança muito sofredora, também devido ao seu passado. Estivera casada com o rei castelhano Afonso XI, mas este repudiou-a, sem consumar o matrimónio, e encarcerou-a no castelo de Toro, a fim de casar com a infanta D. Maria de Portugal, irmã de D. Pedro! Esta rainha, porém, não teve igualmente grande sorte com o rei castelhano, pois Afonso XI sempre preferiu a barregã Leonor Nunes de Gusmão, com quem teve vários filhos, situação que, depois da sua morte, levaria a uma guerra civil em Castela.

A estadia de Constança Manuel na corte portuguesa limitou-se a seis anos, dando três filhos à luz: o infante D. Luís, que morreu com poucos dias de vida; a infanta D. Maria, que casou em Aragão; e o infante D. Fernando, que viria a ser o 9º rei de Portugal e o último da dinastia Afonsina. Segundo o imaginário popular, a princesa terá morrido de desgosto pela paixão entre o marido e a sua aia e melhor amiga, versão que a autora corrobora.

Este romance alterna entre a primeira pessoa (a própria Constança) e a terceira pessoa. Não penso que houvesse esta necessidade, mas é assunto passível de discussão. Tem momentos bons e empolgantes, ao lado de outros mais fracos, do ponto de vista literário, e há situações de enredo mal resolvidas. O carácter de D. Pedro permanece enigmático, o que aliás não é uma crítica, já que esta personalidade continua envolvida em muito mistério. Gostei de ver um retrato favorável de D. Afonso IV, fiel à sua esposa Beatriz, incomodado com o desprezo a que o genro de Castela vota a filha e revoltado com o sofrimento que a paixão entre Pedro e Inês provoca na nora Constança. É notória a relação conflituosa que tem com o filho, o que nos leva à pergunta ainda não respondida: o que de facto originou o assassinato de Inês? Mas isso é assunto para outro romance, pois deu-se vários anos depois da morte de Constança Manuel, a protagonista deste.

16 de fevereiro de 2019

Esgotado ou Não Disponível?

Não se compreende!
O livro existe e está disponível, tanto na editora, como na distribuidora.
A situação na wook.pt e na bertrand.pt está assim, pelo menos, desde o dia 18 de janeiro (quando dei conta).
Já não peço que esteja em todas as livrarias, isso é privilégio só para alguns, que aprendi a aceitar. Mas que custava estar disponível online?
Para que conste: isto também é o mercado livreiro em Portugal!







13 de fevereiro de 2019

Mentirosos


Um mentiroso compulsivo prejudica terceiros, por vezes, de forma grave, e alimenta intrigas ao transmitir falsas informações. Não menos grave, porém, é a arrogância e o desprezo a que vota os seus interlocutores, o que diz muito sobre o seu carácter: um complexo de inferioridade tão grande, que só pode ser compensado por doses maciças de arrogância, a máscara perfeita para a sua pequenez.