Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

20 de fevereiro de 2019

Constança - A princesa traída por Pedro e Inês




Foi muito interessante ler um romance sobre D. Constança Manuel, a princesa que casou com D. Pedro I e foi mãe do rei D. Fernando. Tendo o caso amoroso de Pedro e Inês atingido nível de culto no nosso imaginário coletivo, há a tendência para esquecer a esposa traída.

Tudo indica que a princesa se terá apercebido da paixão entre os dois, já que Inês de Castro foi afastada da corte, sendo confinada ao castelo castelhano de Albuquerque, perto da raia portuguesa. Isto será igualmente indício de que Constança terá sofrido com o caso.

Isabel Machado, a autora deste livro, retrata uma Constança muito sofredora, também devido ao seu passado. Estivera casada com o rei castelhano Afonso XI, mas este repudiou-a, sem consumar o matrimónio, e encarcerou-a no castelo de Toro, a fim de casar com a infanta D. Maria de Portugal, irmã de D. Pedro! Esta rainha, porém, não teve igualmente grande sorte com o rei castelhano, pois Afonso XI sempre preferiu a barregã Leonor Nunes de Gusmão, com quem teve vários filhos, situação que, depois da sua morte, levaria a uma guerra civil em Castela.

A estadia de Constança Manuel na corte portuguesa limitou-se a seis anos, dando três filhos à luz: o infante D. Luís, que morreu com poucos dias de vida; a infanta D. Maria, que casou em Aragão; e o infante D. Fernando, que viria a ser o 9º rei de Portugal e o último da dinastia Afonsina. Segundo o imaginário popular, a princesa terá morrido de desgosto pela paixão entre o marido e a sua aia e melhor amiga, versão que a autora corrobora.

Este romance alterna entre a primeira pessoa (a própria Constança) e a terceira pessoa. Não penso que houvesse esta necessidade, mas é assunto passível de discussão. Tem momentos bons e empolgantes, ao lado de outros mais fracos, do ponto de vista literário, e há situações de enredo mal resolvidas. O carácter de D. Pedro permanece enigmático, o que aliás não é uma crítica, já que esta personalidade continua envolvida em muito mistério. Gostei de ver um retrato favorável de D. Afonso IV, fiel à sua esposa Beatriz, incomodado com o desprezo a que o genro de Castela vota a filha e revoltado com o sofrimento que a paixão entre Pedro e Inês provoca na nora Constança. É notória a relação conflituosa que tem com o filho, o que nos leva à pergunta ainda não respondida: o que de facto originou o assassinato de Inês? Mas isso é assunto para outro romance, pois deu-se vários anos depois da morte de Constança Manuel, a protagonista deste.

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