Este livro, com coordenação do Professor Mário Jorge
Barroca, reúne as prestações de vários historiadores no colóquio com o mesmo
título, promovido pelo museu Alberto Sampaio e que decorreu em Guimarães nos
dias 22 e 23 de junho de 2010. Cada historiador abordou um tema, como, por
exemplo, a Igreja no tempo de D. Afonso Henriques, a imagem do nosso primeiro
rei na escultura medieval portuguesa, a arquitetura militar dessa época, o
papel da escrita, a habitação, a alimentação, o vestuário, etc., sem esquecer
as terras do sul muçulmano.
O limitar do tempo à época de D. Afonso Henriques -
século XII - é de extrema importância. Por falta de documentação coeva, ou de
estudos sistemáticos sobre muitos dos temas, há a tendência frequente, mesmo em
tratados históricos de alto nível, de alargar o espaço temporal aos séculos
XIII, XIV, ou mesmo XV, quando se pretende caracterizar a época da formação da
nacionalidade, seja em relação aos costumes, ao paço real, ou mesmo ao
vestuário e modo de combater. Um grande exemplo é uma tentativa de explicação
da organização territorial, usando as Inquirições levadas a cabo por D. Afonso
III em 1258, cerca de 70 anos após a morte de D. Afonso Henriques, como nos diz
André Evangelista Marques, no capítulo “A organização do espaço rural no tempo
de D. Afonso Henriques: a morfologia do casal
entre os textos e as materialidades” (pp. 195 a 227:
«Esta acepção da palavra [casal] pode ser considerada dominante, na medida em que a passagem
do tempo a tornou quase hegemónica, como se verifica, logo na primeira metade
do século XIII, pela leitura das actas das Inquirições Gerais de 1220 e de
1258.
Mas a realidade foi bem mais complexa e matizada (…)
[existe a] tendência para retroprojectar uma realidade característica dos
séculos XIII e seguintes (…) A escassez de estudos de história rural para o
período anterior a 1200, sobretudo no que respeita ao Entre-Douro-e-Minho,
explica o excessivo à-vontade com que esta noção [do casal] se generalizou na literatura e foi aplicada a [outras] cronologias»
(p. 210).
Trata-se de um livro imprescindível para quem se
interesse pelo início da nossa nacionalidade. Apenas menciono uma certa
desilusão, quanto ao capítulo “Viajar no Tempo de D. Afonso Henriques. Vias e
Pontes no território vimaranense” (pp. 303 a 357). Como o título o indica,
resume-se ao atual distrito de Guimarães e à ligação desta vila (à altura) com
outros centros urbanos como Braga, Porto ou Ponte de Lima. Apesar de ser um
estudo muito completo e rigoroso, gostaria também de ler sobre outros caminhos
e rotas no século XII português. Presumo, porém, que esse estudo, como tantos outros, estará ainda por
fazer.
Louve-se, no entanto, o trabalho recente dos
historiadores, que originou um verdadeiro avanço no estudo da nossa época
medieval neste século XXI. Esperemos que assim continue.
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