Neste cenário, dois jovens envolvem-se num amor
proibido. A partir daqui, o romance perde em qualidade, pois, na minha opinião,
esse amor não é bem gerido. Apesar de se tratar de uma relação intensa, cai
numa série de lugares comuns. Os diálogos, por exemplo, são muito repetitivos. Insistir
centenas de vezes no tratamento “meu amor, minha vida” enfastia o leitor. Depois
de ficar claro que duas pessoas se amam intensamente, não há necessidade de, a
propósito de tudo ou de nada, bater na mesma tecla. Também hesitações do
género: “achas, é? Pois, se calhar… não sei, mas, se o dizes… deves ter razão,
sim”, se devem evitar. Apesar de espelharem uma linguagem quotidiana, quebram o
ritmo, o leitor começa a bocejar, quando não fica exasperado…
Outro aspeto negligenciado é a caracterização das
personagens. Falta densidade ao marido traído. O romance ganharia em qualidade
se transmitisse igualmente a sua perspetiva. Quanto aos jovens apaixonados, é
natural que se achem acima da lei e da moral, dada a intensidade dos seus
sentimentos, mas, também em casos destes, há momentos em que se sente culpa, ou
peso de consciência, principalmente, quando se enganam ou manipulam pessoas que
em nós confiam… ou não?
Resumindo: retrato de uma época, assente num enredo empolgante - um romance que tinha tudo para se tornar num grande livro, se tivesse chegado às mãos de um editor que reconhecesse o seu potencial e dado as indicações necessárias ao autor. Editores desses, porém, são mais raros, em Portugal, do que bons escritores. Enfim, é pena ver ideias destas desperdiçadas. Uma possibilidade seria criar um guião. Nas mãos certas, podia ainda dar um excelente filme.
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