Nestes vinte contos, Machado de Assis abre-nos a janela para o século XIX brasileiro, tanto citadino, como provinciano. No seu poder de observação, na sua ironia e na sua crítica velada aos costumes, fez-me lembrar Eça. Mas o mundo de Machado de Assis é outro, um mundo ainda sob um regime esclavagista.
São livros destes que nos ensinam a entender melhor certas revoltas de hoje em dia. Depois de ler um conto como O Caso da Vara, fica-se com um nó na garganta e com vontade de pedir desculpa aos povos escravizados pelos brancos. Machado de Assis não emite qualquer juízo, limita-se a apresentar-nos as situações. É quanto basta.
Mas também a crítica à sociedade hipócrita e materialista é magistral, por exemplo, em O Alienista, onde se pode ainda observar os efeitos da manipulação e o desejo que as pessoas têm em acreditar em alguém que lhes parece poderoso e capaz de resolver os seus problemas.
Há ainda lugar para desejos adolescentes, para a importância de manter as aparências e para a tragédia, em A Cartomante, que mais uma vez espelha a insegurança humana.
Como se costuma dizer, nada como ler os clássicos. Para nos entendermos melhor, assim como o mundo que nos rodeia.
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