A minha última opinião sobre um livro - A Tia Júlia e o Escrevedor, de Maria Vargas Llosa - foi já a 28 de maio de 2021. Claro que não deixei de ler, mas falta-me o tempo, a ocasião, essas coisas. Na verdade, a minha colaboração no blogue Delito de Opinião deixou o Andanças um pouco esquecido. Enfim, vou tentar recuperar em relação aos livros, embora seja difícil escrever sobre obras lidas há muito tempo.
Na verdade, em relação a Cem Anos de Solidão, pouco há a acrescentar ao epíteto de obra-prima. Não li, claro, todos os clássicos, nem lerei, nem haverá quem o consiga, mas não hesito em afirmar que este é realmente um dos melhores livros já escritos. Além disso, procurando na net, encontram-se inúmeras informações e recensões sobre esta obra e não serei eu que vou fazer a diferença.
Mas posso dizer o que mais me impressionou: o quase alucinante ritmo narrativo. Dir-se-ia que as ideias saltam em catadupa do cérebro de Gabriel García Marquéz, para o papel. Por isso, ninguém deixe de pegar nesta obra-prima da literatura por recear ser chata, ou conter linguagem erudita, não acessível a todas as pessoas. Na escrita de Gabriel García Marquéz, também conhecido por Gabo, não há pontos mortos, os acontecimentos sucedem-se a um ritmo alucinante e são narrados de forma perfeitamente compreensível.
Através de um local fictício, Macondo, Gabo conta-nos a história de uma família, durante um século, e, em paralelo, a história da América Latina. Está lá tudo: a fundação de uma cidade de província em terrenos selvagens, a evolução tecnológica no dealbar do século XX, a revolução caracteristicamente sul-americana com todas as suas contradições e reviravoltas (apreciei que Gabo, assumidamente comunista, não faça a apologia deste sistema - assim se define um bom escritor) e, por fim, a decadência, tanto de Macondo, como da família Buendía.
Gabo utiliza também o realismo mágico, ou seja, introduz
elementos do sobrenatural, a fim de dar mais realce a certas mentalidades e acontecimentos,
ou fazer crítica político-social velada. Gabo é aliás bastante poupado na
utilização deste artifício literário. Mesmo assim, penso que se corre o risco
de não levar a sério certas coisas. Na família Buendía, por exemplo, também lá
está tudo: ciúmes, prepotência, incesto, violência, loucura, fanatismo,
negligência, fraqueza - no fundo, o retrato de qualquer família, se o
alongarmos durante um século. Como, porém, não conseguimos ser objetivos ao
analisar a nossa própria família, a utilização do realismo mágico pode confirmar
esta nossa tendência. Aumenta a nossa distância em relação à família Buendía, que
remetemos para um mundo imaginário, vedando a autocrítica. Esta é, para mim, a única fraqueza desta obra.
E, bem, para um livro lido há mais de dez meses, até escrevi bastante. Mais do que pensei, quando iniciei este texto.
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