Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

13 de novembro de 2022

O talento das mulheres

Durante muitos séculos (ou seria melhor dizer milénios?), aceitava-se, como argumento para o suposto talento superior dos homens, dizer que era só comparar os feitos de uns e outras. 99% das obras-primas (fosse em literatura, pintura, música ou nas restantes artes), das invenções, das descobertas científicas, das obras de engenharia, etc. era de autoria de homens.

Por incrível que pareça, só nos últimos anos se começou a tomar consciência de que, salvo raras exceções, as mulheres não tinham, por um lado, acesso ao conhecimento e, por outro, andavam ocupadas com outras tarefas, impeditivas de se dedicarem a atividades consideradas mais prestigiantes. Era interessante verificar a contradição: se os homens se elogiavam por serem os maiores criadores e inventores, aplaudiam, ao mesmo tempo, as primeiras mulheres a serem aceites numa Universidade. Tinham a resposta à frente da cara e não a viam. Se isto é inteligência…

A esmagadora maioria das mulheres seguia-lhes aliás os passos. Mas havia exceções, mulheres com coragem para admitir que a educação que lhes impunham desde o berço só servia o universo masculino.

A bávara Emerenz Meier (1874-1928), pertencente a uma família de lavradores, foi uma dessas mulheres. Começou a escrever sobre a sua terra-natal ainda em criança e, em 1893, foram publicados os seus primeiros contos no periódico regional Passauer Donau. Três anos mais tarde, foi publicado o seu único livro. Mas também escreveu poemas, onde, muitas vezes, se destacava um tom irónico. Em Março de 1906, emigrou para os EUA com a sua mãe, juntando-se ao pai e às irmãs, no bairro alemão de Chicago. Casou em 1907, mas o marido morreu três anos mais tarde de tuberculose, deixando-a com o filho pequeno. Emerenz Meier não deixou de ser dona-de-casa, durante toda a sua vida e, durante a Lei Seca, fazia cerveja para si e os seus compatriotas.

No Jornal Católico da diocese de Hildesheim (edição nº 33, de 21-08-2022) deparei com um seu pequeno poema de traço irónico, o qual não resisto a traduzir (segue-se o original em alemão):

 

Tivesse Goethe de engrossar sopas,

De salgar almôndegas,

Schiller de limpar a pia,

Heine de remendar o que rompia,

Esfregar o chão, matar baratas,

Ah, os cavalheiros,

Não teriam sido

Esses poetas virtuosos.

 

Hätte Goethe Suppen schmalzen,

Klöße salzen,

Schiller Pfannen waschen müssen,

Heine nähen, was er verrissen,

Stuben scheuern, Wanzen morden,

Ach die Herren,

Alle wären

Keine großen Dichter worden.

 

Emerenz Meier (1874-1928)

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