Hans Scholl
Direitos: C.H. Beck Verlag in "Flamme sein" von Robert Zoske
Em tempos conturbados, muito por causa de uma guerra em solo europeu, começo uma série sobre alemães que se opuseram ao nazismo, pois, embora haja conhecimento de alguns exemplos, penso ser, no geral, algo pouco conhecido fora da Alemanha. E é sempre bom relembrar exemplos de quem reage ao populismo/fascismo, mesmo que, num primeiro momento (em alguns casos) se deixasse ir na onda de quem promete soluções simples para problemas complicados, em nome de uma pretensa salvaguarda de valores.
Ao estudar este assunto, surpreendeu-me que muitos desses resistentes fossem prelados, Católicos e Protestantes, apesar de a Igreja ser acusada (com razão) de ter sido demasiado passiva, durante a 2ª Guerra Mundial. Mas houve, de facto, quem levantasse a voz em nome dos princípios cristãos, também muitos leigos. É o caso de Hans Fritz Scholl.
Os irmãos Scholl (Hans e Sophie) são dos mais conhecidos opositores ao nazismo, principalmente, Sophie Scholl, sobre a qual já se rodaram filmes e escreveram livros. Mas começo pelo irmão, pois ele foi um dos fundadores da “Rosa Branca” (Weiße Rose), um movimento estudantil baseado em princípios cristãos e humanistas, surgido em Junho de 1942, na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique. Passado um ano, estava já aniquilado e os seus principais membros executados pelo regime nazi.
Da esquerda para a direita: Hans Scholl, Sophie Scholl, Christoph Probst (os primeiros a serem executados)
Foto: George (Jürgen) Wittenstein/akg-images
O grupo clandestino “Rosa Branca” escrevia, imprimia e distribuía folhetos, nos quais dava conhecimento dos crimes do regime e apelava à oposição. As primeiras distribuições resumiam-se à região de Munique, depois, arranjaram quem o fizesse também noutras cidades. Pouco antes de o grupo ter sido descoberto, andava em contactos com outros grupos oposicionistas, tentando alargar a sua influência até à capital Berlim e a focos de oposição no próprio exército. Ao todo, imprimiram seis folhetos, cuja tiragem foi aumentando, chegando aos 9000 exemplares.
Hans Scholl, nascido em Setembro de 1918, entrou, com doze anos, para um grupo de jovens católicos. Antes de completar os quinze, e contra a vontade do pai, juntou-se à Juventude Hitleriana (a 15 de Abril de 1933). Dois anos mais tarde, porém, sentia-se já incomodado com o radicalismo e o princípio da obediência cega dos membros dessa organização juvenil.
Ao começar a estudar Medicina na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique, em 1939, Hans Scholl entrou em contacto com Professores, Assistentes e estudantes que se regiam por princípios éticos cristãos e criticavam o regime. O ponto de viragem definitivo deu-se quando, nas férias, foi enviado como socorrista para a frente francesa, vivências que lhe consolidaram a forte oposição ao nazismo e à guerra por este iniciada.
Outras influências contribuíram para a sua transformação, como as mensagens do escritor Thomas Mann difundidas pela BBC, ou as pregações do bispo de Münster, Clemens August Graf von Galen, que denunciava a execução de doentes mentais pelo regime e apelava à oposição. Em Fevereiro de 1942, Hans Scholl começou a organizar fóruns de discussão com um pequeno e selecionado grupo de estudantes.
Já depois de o grupo “Rosa Branca” ter distribuído quatro folhetos, Hans Scholl e Alexander Schmorell (um outro membro) foram enviados como soldados para a frente leste. Nessas quinze semanas, os jovens foram confrontados com vários horrores, incluindo a maneira como os judeus eram tratados no Gueto de Varsóvia. Depois do seu regresso a Munique, em Novembro de 1942, Hans intensificou o tom usado nos folhetos, apelando à luta organizada contra o NSDAP (Partido Nazi), principalmente, depois da Batalha de Estalinegrado.
A 18 de Fevereiro de 1943 Hans e a irmã Sophie foram descobertos a distribuir os folhetos por um funcionário da Universidade que os entregou à Gestapo. Depois de quatro dias de interrogatório, foram condenados à morte por decapitação. A sentença foi executada ainda nesse dia (22 de Fevereiro). Diz-se que as últimas palavras de Hans Scholl foram “viva a liberdade” (Es lebe die Freiheit). Tinha 24 anos.
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