Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

20 de março de 2025

Um ano com D. Dinis (15)

CANTIGA DE AMOR DE D. DINIS

 

Ao som dos alaúdes, Pêro Anes Coelho entoou os primeiros versos da cantiga de autoria de Dinis. A amada era informada de que seu amigo andava tão triste, que já quase não podia falar:
        
    O voss’ amig’, amiga, vi andar
    tam coitado que nunca lhi vi par,
    que adur mi podia já falar,

Os outros dois trovadores juntaram-se-lhe no refrão. O apaixonado suplicava que fossem rogar à amada que tivesse mercê dele:

    pero quando me viu disse-m’ assi:
    «Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar
    por Deus que haja mercee de mi.»

Era um poema em jeito de recado. A corte e os convidados seguiam encantados como Pêro Anes Coelho anunciava o coitado haver perdido o juízo e o ânimo:

    El andava trist’ e mui sem sabor,
    como quem é tam coitado d’ amor
    e perdudo o sem e a color,

E, de novo, se lhe juntaram os outros no refrão:

    pero quando me viu disse-m’ assi:
    «Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar
    por Deus que haja mercee de mi.»

Embora descrevesse um sofrimento, a cantiga possuía uma melodia leve e muito ritmo, na mudança entre o solista e o refrão.

    El, amiga, achei eu andar tal
    como morto, ca é descomunal
    o mal que sofr’ e a coita mortal,
    pero quando me viu disse-m’ assi:
    «Ai, senhor, id’ a mia senhor rogar
    por Deus que haja mercee de mi.»

 (Excerto do meu romance "Dom Dinis . a quem chamaram O Lavrador")

Nota: Todas as Cantigas de Amigo transcritas no meu romance são originais de D. Dinis, embora seja fictício o contexto em que são inseridas.

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