Aprendemos, desde pequenos, que devemos ser humildes. O culto da humildade está muito enraizado na nossa cultura e tradição religiosa. Cristo é visto como o símbolo máximo da humildade, ao ter sido crucificado para salvar a Humanidade.
Mas não usaremos nós um conceito deturpado de humildade? Devemos subjugar-nos perante os outros, em todas as circunstâncias? Devemos atender mais às necessidades dos outros, do que às nossas? Ter os outros em melhor conta, do que nós próprios? E onde fica a auto-estima, a consciência do nosso valor e das nossas qualidades?
Na verdade, só quem possui auto-estima e uma personalidade forte tem algo para dar aos outros. Cristo, no fundo, é o melhor exemplo disso. Um homem servil, com tendência para a subjugação e sem poder de decisão, nunca seria capaz de arrastar multidões. Mesmo alguém como São Francisco de Assis teve de irradiar carisma e ser resoluto para convencer tanta gente a seguir o seu exemplo.
O Jornal do Bispado de Hildesheim diz-nos que a humildade deve expressar-se em respeito mútuo e, não, em servilismo. Mas a verdade é que a Igreja nos tem ensinado a sermos servis, sem respeito nenhum pelas nossas próprias necessidades.
Vejamos a seguinte passagem da Carta de S. Paulo aos Filipenses (2, 3-4): Nada façais por espírito de partido ou por vanglória, mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem atender cada um a seus próprios interesses, mas aos dos outros.
Isto pouco tem a ver com respeito mútuo, que implica que nos encaremos ao mesmo nível. Contudo, é interessante verificar que, na versão alemã, há uma pequena diferença no texto. Mantém-se o considerai os outros superiores a vós mesmos, mas diz-se: sem atender cada um apenas a seus próprios interesses, mas também aos dos outros (Jeder achte nicht nur auf das eigene Wohl, sondern auch auf das der anderen). Duas palavras acrescentadas, que fazem toda a diferença.
A humildade é a proposta dos poderosos (igreja incluída) para melhor levarem a cabo os seus procedimentos de exploração e/ou humilhação.
ResponderEliminarDe resto, acho que ser-se humilde (ou ser-se soberbo) depende da natureza de cada um e, ainda assim, dos momentos de cada um.
Simão Gamito
Em minha opinião, a humildade faz todo o sentido, desde que entendida de forma universal.
ResponderEliminarNo entanto, nesta matéria, não podemos pensar em milagres, nem em passes de mágica, mas sim em vontade, a mesma vontade que fez elevar-se nos ares, a passarola do padre Bartolomeu de Gusmão.
;)))))
Just a dream...
A humildade é necessária, devemos ter em conta os interesses alheios. Mas a humildade gratuita, o servilismo, o deixar-se explorar, não! Humildade não deve realmente ser sinónimo de humilhação.
ResponderEliminarConcordo que a humildade por si só, levada ao extremo, se transforme em servilismo e não leve a lado nenhum.
ResponderEliminarConcordo que a humildade só poderá dar lições de humanidade se envolver um certo carisma que conduza à afirmação da personalidade.
No entanto, entre a humildade e a afirmação da personalidade fica a capacidade de relacionamento com os outros; veja-se os exemplos que citaste e também outros: Jesus Cristo, São Francisco, mas também Madre Teresa, Che Guevara ou Dalai Lama. São pessoas que cultivaram a humildade ao colocarem a sua vida ao serviço dos outros, mas fizeram-no com alegria, com afirmação positiva das sua personalidades porque foram capazes de comunicar de forma igualmente positiva com os outros.
No meio de tudo isto, há um elemento fundamental: a alegria. ser humilde e servil é ser triste, é anular-se, é ser nada.
olá, é verdade que a humildade muitas vezes é confundida com subjugação e, nos dias de hoje há ausência do seu verdadeiro sentido. Jesus foi e é o Mestre dos Mestres, pois sem preconceito e Amor atingiu o mais alto padrão de Humildade!
ResponderEliminarEu por vezes comparo a Bíblia traduzida para português/Portugal com o português do Brasil. E, do que tenho lido, no Brasil existe maior proximidade com o leitor:
"Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros."
Filipenses 2:3-4
Manuel, focas dois aspectos importantes: o da humildade com personalidade, mas, também, com alegria. Na minha opinião, só quem tem consciência do próprio valor e quem se estima, é capaz de tal. Quem se anula perante os outros, porque se acha desprezível, ou porque não está em paz consigo próprio, é mais um masoquista. E quem é servil, apenas com o intuito de ser elogiado e/ou admirado, também não se tem em boa conta e tenta manipular a opinião dos outros, pois acha que só assim conseguirá uma opinião favorável.
ResponderEliminarInfelizmente, eu acho que a Igreja cultivou, durante muito tempo, a humildade gratuita, ou seja, o rebaixar-se e o humilhar-se apenas porque tem de ser assim. E ainda estamos a sofrer os efeitos dessa doutrina.
Rita, é sempre interessante comparar traduções da Bíblia. Comecei a ficar atenta a isso, quando soube que Martinho Lutero teve inúmeros problemas com a tradução para o alemão. Já comparando as antigas versões hebraicas e gregas há diferenças. É surpreendente que o chamado Livro dos Livros seja publicado com tantas variantes. Porque, às vezes, uma simples palavra pode mesmo fazer a diferença.
o problema é que muitas acham que humildade é conformismo e que podem estar sempre a apanhar. Portugal é um bom exemplo.
ResponderEliminarExactamente, Daniel! Esse é o lado mais negro da mentalidade lusa. O cinzentismo que eu costumo (algo malevolamente, confesso)exemplificar com o fado encaixa como uma luva na crise económica. Enfiamo-nos no nosso buraco e esperamos que passe. Ou então confiamos em iluminados que, com muita fé, julgamos capazes de resolver tudo.
ResponderEliminarVoltando um pouco atrás para reforçar a ideia da alegria na humildade. Acredito piamente que Jesus Cristo, Gandi, S. Francisco, Che Guevara, Dalai Lama, Madre Teresa e outros que tais eram (ou são) magníficos contadores de anedotas.
Rir é das coisas mais importantes da vida. E se queremos ajudar os outros, ser solidários e viver essa humildade sábia e saudável, temos de saber rir.
Porque será que me lembrei agora de "O Nome da Rosa"? ;)
ResponderEliminarEsse título fez "Eco"! :)
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