Li, num jornal alemão, uma entrevista a uma psicóloga infantil, Merle Dettbarn. E, porque adorei muitas das suas declarações, decidi partilhá-las aqui (tradução minha):
Os dias cheios de actividades, que os pais organizam para os seus filhos, podem pôr as crianças sob pressão. Os pais querem o melhor para os filhos, mas, cuidar deles é hoje, muitas vezes, confundido com desenvolver permanentemente o seu intelecto e as suas capacidades. Entre os trabalhos de casa, as lições de piano, a ginástica, a natação e outras actividades sobra pouco tempo para as necessidades emocionais das crianças. E, no entanto, elas precisam, acima de tudo, de boas relações pessoais para um desenvolvimento saudável - relações com os pais, com os amigos e com outros parentes. Quando perguntamos às crianças o que é importante para elas, as duas respostas mais frequentes são: tempo para brincar com os amigos; pais que se interessem por elas. Os pais deviam, por isso, fazer com que estes desejos fossem realizados.
Felicidade material não é a mesma coisa que felicidade emocional. Os media e a sociedade transmitem aos pais a mensagem de que os filhos são felizes se lhes forem proporcionados bens materiais. É claro que as crianças se alegram ao receber uma playstation nova. O importante é, no entanto, terem pais com tempo para elas. Com isto, não me refiro apenas à presença física, mas também emocional, ou seja, relacionar-se com a criança, mostrando verdadeiro interesse pelos seus assuntos e problemas.
Resposta à pergunta: o que deseja às crianças, hoje em dia?
Desejo-lhes tempo para brincar, tempo, que elas próprias planeiem. Desejo-lhes que se sintam integradas numa comunidade, que corresponda às suas expectativas. Pode tratar-se da família, mas também podem ser amigos, um bairro, ou um clube desportivo. As crianças não devem ser adultos pequenos, tomando responsabilidades que pertençam aos pais e às quais elas se sentem incapazes de corresponder. Desejo-lhes que possam ser crianças, com tudo o que este conceito engloba.
Com 8 anos fui para a escola e apanhei muita pancada do professor. Na década de 50, criança era educada com modos violentos: palmatória e cana da índia eram os instrumentos de tortura. Fora da escola muito trabalho no campo, pouco tempo tinha para brincar. Minha sorte foi ter vindo para o Brasil com minha mãe e aqui ter ficado três anos. Estudei numa Escola Pública no RJ e, graças ao carinho dos professores, perdi o medo da escola, fui um excelente aluno e comecei a ter gosto pelo estudo. Passados esses três anos retornei a Santar - vila mais bonita de Portugal - com meus pais, depois de muito embirrar fui jogado novamente na sala de aula do professor que não gostava de crianças. Felizmente superei essa horrível experiência. Não fosse o Brasil, meu destino seria outro. Com 26 anos emigrei para esta bela e receptiva terra com a certeza de ser feliz. Hoje entendo, minha pátria é a minha língua. No Brasil entendemos bem o sentido dessa frase de Fernando Pessoa.
ResponderEliminarem cheio.
ResponderEliminarFantástico!
ResponderEliminarMuita ternura, muito amor.Muio riso, também
Caro CAL, na época de Salazar, a escola primária em Portugal (ou muita dela) era horrível, principalmente, no interior. Sei isso pelos meus pais. No tempo em que a frequentei (anos 70, o 25 de Abril apanhou-me na 3ª classe), embora melhor, ainda era bastante má. A educação ainda se baseava na humilhação e na agressividade. E sei que noutros sítios, como na Alemanha, já era diferente.
ResponderEliminarPor vezes, temos tendência a desejar semelhante, hoje em dia, principalmente, quando vemos a insubordinação que reina. Mas não! Devemos manter-nos lúcidos. Disciplina, sim; humilhações e violência, não! Há coisas que não se desejam a ninguém, muito menos, a crianças.
Daniel, um beijinho :)
George, ternura e amor, sempre :)
Que precisam os petizes?!
ResponderEliminarPrecisam de brincar, aprendendo
Precisam de aprender, brincando
Porque ainda são aprendizes...
Precisam, tal como Dinis
"A Quem Chamaram o Lavrador"
De ouvir o avô que lhe diz
Com todo o saver e amor
Que o mundo é cheio de ardis
Mas também de todo o valor
E como Dinis em Toledo
Ao espretar as estrelas
Destrinçar e não ter medo
De todas as coisas, as mais belas.
;)))
Que bonito, Bartolomeu, obrigada :)
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