Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

12 de novembro de 2013

Retrato do egoísta

Porque não teve infância, não a permite aos filhos. Vê-os como prolongamento de si próprio e não lhes consente felicidades que não viveu. Assegura que quer o melhor para eles, mas esse «melhor» limita-se a sinais exteriores: dinheiro, bens materias, habilitações literárias... Neste seu empenho é até elogiado por ser bom pai. Mas tem para si que a vida interior - amor, felicidade, autoestima, personalidade - não deve ser neles melhor do que aquilo que conhece (e conheceu). Não suporta que o seja.

Torna-se-lhe doloroso ver os filhos como seres autónomos, fruto de uma inveja não passível de ser dominada. Confunde a sua vida com a deles, criando a sensação que lhes é dada uma segunda oportunidade de nascerem, viverem e serem felizes. É-lhe doloroso parar para refletir, constatar que comete uma injustiça, recusando-se a admitir que também os filhos só nascem uma vez e não vêm ao mundo com a bagagem que ele possui, nem têm culpa daquilo que sofreu, daquilo de que foi obrigado a prescindir. Anda demasiado ocupado com as suas carências e problemas, ocupado com as suas armadilhas de vida.

Um dia, quando for velho e doente, há de queixar-se de que os filhos não lhe ligam...


2 comentários:

Anónimo disse...

Eis um bom tema para um romance.

Ainda há tanto para dizer dos esplendores e misérias do ser humano.

ABC

Cristina Torrão disse...

Esplendores e misérias que se podem encontrar onde menos se espera...