Eça de Queirós não é de facto apenas o Eça de
Os Maias, O Crime do Padre Amaro, ou O
Primo Basílio. E, depois de ter lido o Defunto
e A
Ilustre Casa de Ramires, torno a afirmar: que bom haver Eça por
descobrir! Quanto mais dele se lê, mais se constata quão completo ele era, experimentando
novos formatos e narrativas. Foi pena ter falecido novo (na idade de cinquenta e
quatro), quantas maravilhas literárias teria ainda produzido, se tivesse vivido
mais uns vinte anos!
Este projeto, O Mistério da Estrada de Sintra, foi aliás levado a cabo em
conjunto com Ramalho Ortigão. De qualquer maneira, a sua marca é bem visível,
nomeadamente, na caracterização das personagens. A novidade, aqui, é tratar-se
de um romance policial, com um grande mistério a envolver uma morte. Suicídio
ou assassínio?
Esta é, portanto, uma nova experiência de
leitura em Eça, pois alia a habitual descrição da sociedade e dos costumes ao suspense de um mistério por deslindar. Mais
uma vez, há uma mulher adúltera com a marca de Flaubert, ou seja, compreensão para um ato, à época, inaceitável. As adúlteras, em Eça, nunca são
mulheres devassas, ou condenáveis.
Para o género policial, porém, tenho um
defeito a apontar: uma parte da narrativa demasiado longa, num dos flashbacks que nos põem a par do passado
das personagens envolvidas.
Nota: li a versão ebook, em download
gratuito, no Projecto Adamastor.
Também nunca me canso de descobrir as diferentes facetas do Eça...Puxa. Esse por acaso ainda não li, mas fiz o download...
ResponderEliminarFoi o livro de Eça de que menos gostei. Tens razão em dizer que há descrições longas. Fastidiosas, mesmo.
ResponderEliminarMesmo assim está lá a marca do génio
Excelente Cristina, gosto de mistério a desvendar.
ResponderEliminarExperimente, Sara! Quem gosta de Eça, também gosta deste ;)
ResponderEliminarManuel, é mesmo isso. Mas eu apreciei muito esta vontade de experimentação, não pensei que Eça se aventurasse por estes caminhos. No blogue do Projecto Adamastor, há um texto, que não sei se foi escrito por Eça, ou por Ramalho de Ortigão, que expressa arrependimento pela escrita deste romance.
Podes ler aqui:
http://projectoadamastor.org/o-misterio-da-estrada-de-sintra-eca-de-queiros-e-ramalho-ortigao/
De qualquer maneira, como dizes, está lá a marca de génio. E, apesar dessas descrições fastidiosas, eu não descansei enquanto não se resolveu o mistério ;)
Beijinho, Cláudia :)