Embrenhou-se na serra, correndo sem parar.
Não fugia apenas do mosteiro. Fugia também do turbilhão de sentimentos que
devastava o seu peito com a força de um tufão. Fugia, como se o virar das
costas aos destroços negasse a sua existência. Mesmo quando já sentia falta de
ar e as pernas lhe doíam, continuou a galgar os caminhos íngremes da serra.
Chegada ao moinho, deixou-se cair no chão, a
respirar às golfadas.
Não
sabia há quanto tempo ali jazia, quando tomou consciência do frio, dos pés
gelados. Rastejou até ao canto das mantas, onde se quedou tolhida. Ignorava fome e sede, tudo o que significasse vida, esse albergue de sensações e pensamentos que a aterrorizavam.
Só ao escurecer foi acordando daquele transe,
finalmente perfurado pelos espinhos da dor. Tormentos e choros sacudiam-lhe o
corpo, alimentando-se do resto de energia que lhe restava. A fraqueza mental e
física acabou por mergulhá-la numa vigília, entrecortada por
pesadelos, num escuro total, enquanto os lobos uivavam pela serra.
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