(Texto baseado
nas declarações do teólogo e pedagogo alemão Christoph Hutter, do centro de
aconselhamento psicológico de Lingen – artigo da Kirchenzeitung de 05.04.2015)
Em
casos de ofensas ou abusos graves, a reconciliação só é possível se o culpado
permitir o perdão à vítima, ou seja, reconhecer que agiu mal. Para isso, é
necessário termos uma relação mais descontraída com a culpa. A nossa sociedade
torna difícil o reconhecimento dos erros, há uma grande necessidade de causar
boa impressão, de parecer perfeito, o que nos torna incapazes de suportar a
culpa. Só quando se torna evidente e aceitável que toda a gente erra, se criam condições
para resolver conflitos e discórdias.
O
pedido “perdoa-me” é como que uma ponte dourada entre ofensor e
ofendido e permite sanar os conflitos. E é mais fácil pedir perdão e
perdoar se não tentarmos, por todos os meios, sermos perfeitos e aceitarmos que
errar é natural. Assim se torna igualmente mais natural discutir de modo
saudável, ter consideração pelo outro, estabelecer e aceitar fronteiras,
aceitar a culpa, perdoar e reconciliar-se.
Existe
a ideia de que a reconciliação exige muito sacrifício, mas não tem de ser
assim. As relações que possuem um fundamento sólido tornam mais fácil o pedir
perdão, o perdoar e a reconciliação, como é o caso dos apaixonados, ou de
relações duradouras, em que os parceiros sentem prazer em estar um com o outro.
O sistema que rege as relações interpessoais no nosso cérebro coopera com a
motivação. A minha ligação aos outros anda de mão dada com o reconhecimento das
minhas qualidades e com o sentir-me bem na minha pele.
A
decisão de perdoar e o desejo de continuar, ou reatar, uma relação ficam,
porém, ao critério de cada um. Por vezes, existem boas razões para um
distanciamento ou separação, para o quebrar do contacto, mas é psicologicamente
prejudicial entregarmo-nos ao rancor, à ira ou ao ódio. Normalmente, as pessoas
vivem mais felizes, se conseguirem libertar-se um pouco das suas feridas e
preocupar-se menos com contas por saldar. Este pode ser um bom caminho para a
reconciliação. A decisão, porém, continua a ser de cada um e ninguém tem o
direito de exigir a reconciliação ao seu semelhante. Muito menos, o causador
das feridas.