Este
livro tem coisas muito boas e coisas menos boas.
Comecemos
com as primeiras:
Está
escrito de forma muito original, em forma de diálogo entre o narrador e um
amigo que está preso. O diálogo é, porém, imaginário, pois o preso recusa-se a
falar e a receber visitas do narrador. Por isso, é também um diálogo interior,
pois o narrador, no fundo, fala consigo próprio.
Lê-se
muito bem, peguei sempre nele com prazer e curiosidade em saber como o enredo
avançaria. Apesar de tratar de assuntos sérios e tristes, por vezes mesmo
trágicos, está escrito de maneira divertida, irónica.
É
muito adequado ao nosso tempo e à situação portuguesa, pois fala de crise,
desemprego, desagregação familiar, discriminação. Fala em esperança de que a
vida, apesar de tudo, melhore. E fala na maneira como podemos ajudar os outros,
mesmo que estejamos no fundo do poço.
Agora,
as coisas menos boas:
A capa
deu-me a sensação de déjà vu. Onde
era mesmo? Ah, já sei: o filme Pequena
Miss Sunshine.
Ainda
pensei ser coincidência e, durante grande parte do livro, acreditei nisso
mesmo. Mas depois lá vem a grande viagem, numa carrinha com problemas, os
passageiros ainda com mais problemas, não faltando o depressivo que se tenta
suicidar e o pai que tenta manter a sua família unida. Não tem mal nenhum usar
um filme como fonte de inspiração. Mas precisavam os designers da capa de fazer uma colagem tão evidente? Ainda se
tivessem escolhido outra cor…
Fui
induzida em erro pela editora que, no seu blogue, falou num herói que luta
desenfreadamente pela sua felicidade. Sim, ele luta. Mas também faz muita
coisa que piora a sua situação! Claro que ele não tem culpa de ficar
desempregado e impossibilitado de pagar a prestação da casa. Por outro lado, recusa-se
a juntar-se à mulher e aos dois filhos que abalaram para Viana do Castelo, onde
o sogro tem um café. OK, ele recusa-se a ser sustentado pelo sogro. Mas leva
essa recusa ao absurdo, tornando este passo do enredo, na minha opinião, um
pouco inverosímil. Afinal, ele ainda ama a mulher, sente falta dos filhos, mas
não vai ter com eles, nem quando tem de deixar a casa e dormir no carro várias
noites, acabando por descobrir que o escritório da antiga agência de viagens
onde trabalhou (e que faliu) continua vazio e passa a dormir debaixo da sua
antiga secretária durante mais de um mês. Penso que esta situação é levada
longe demais.
É
interessante constatar que se está a planear um filme baseado neste romance
que, desde o primeiro momento, associei a um outro filme. Desejo ao autor e ao
realizador muito sucesso! E decerto gostarei de ver a película!
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