No
caso de Woody Allen não sabemos quem mente, mas eu confesso que criei uma
espécie de repulsa em relação à sua figura, apesar de muito o apreciar (ou ter
apreciado) como ator e realizador. E mais pensativa fico, ao tomar conhecimento
do caso de Klaus Kinski,
o conhecido ator alemão (por acaso, nascido na Polónia), falecido em 1991.
Klaus Kinski |
Em
2013, Pola Kinski, a
sua filha mais velha, entretanto com sessenta anos, não mais conseguiu calar o
tormento por que passou e publicou um livro, Kindermund, revelando
que o pai tinha abusado sexualmente dela, entre os cinco e os dezanove
anos.
Pola é
filha do primeiro casamento de Klaus Kinski e, por isso, meia-irmã da mais conhecida
Nastassja Kinski. Os pais separaram-se quando ela tinha três anos. Ficou com a
mãe, que casou novamente e, depois de nascer um irmão, a pequena Pola sentia-se
preterida. Quando o pai Klaus começou a levá-la para sua casa, abusando dela, a
menina oscilava entre a felicidade, por o progenitor lhe dar algo que lhe
parecia carinho, e o asco, por aquilo que ele verdadeiramente fazia com ela.
A
situação manteve-se durante catorze anos. Klaus Kinski rodeava-a de luxos,
comprava tudo o que ela queria, mas, ao mesmo tempo, ameaçava-a, para que ela
não contasse a ninguém o que se passava entre os dois.
Pola Kinski com o pai, em 1979 |
Com
dezanove anos, à beira do colapso psicológico (a ponderar suicidar-se),
Pola conseguiu pôr termo àquela relação que a destruía por dentro. Quando
casou, deixou a sua vida de atriz, a fim de cuidar da família (tem três filhos). À morte do pai,
em 1991, teve vontade de revelar o seu suplício, mas na altura frequentava uma psicóloga que a desaconselhou a fazê-lo. Klaus Kinski era um ator muito conceituado, apesar de
se conhecer o seu feitio difícil, dado a ataques de fúria. Havia até quem o apelidasse de psicopata. Mas
participou em inúmeros filmes e o seu prestígio transformou-se num verdadeiro
culto à sua figura, depois da sua morte, pelo menos, na Alemanha.
Pola Kinski, na juventude |
Em
2013, Pola não aguentou mais e revelou a verdade. Há quem diga que seria
desnecessário denegrir a imagem do pai, vinte e dois anos depois de ele ter
falecido. Eu acho que ela fez bem! O abuso sexual de crianças é um crime
imperdoável, que marca as pessoas para sempre. E porque deveria haver cuidado
com a memória de um pai que foi capaz de cometer um crime hediondo e não há de
haver preocupação com a vida de uma filha, cujo bem-estar depende do
gritar da injustiça que lhe foi feita?
Pola Kinski, hoje, com sessenta e poucos anos |
Nota:
não li o livro, mas vi um documentário
televisivo em que Pola Kinski conta a sua história.
Qualquer acto de pedofilia, representa uma chaga de que padece a sociedade.
ResponderEliminarA mim, confrangem-me sobremaneira, os actos praticados entre pais e filhos, e entre educadores ou zeladores e as crianças que por carências de vária ordem permanecem em instituições religiosas ou de acolhimento e educação/formação.
O pedofilo, na minha conceção, é sempre alguém que, não deixando de ser humano, não possui condições para fazer parte livremente, da sociedade. Às crianças, a sociedade tem obrigatóriamente de providenciar todo o conforto e proteção e impedir que ao menor sinal de abuso, essa proteção seja reforçada e o abusador afastado. Não é possível descurar ou facilitar situações de abuso, colocando em causa ou duvidando das denuncias ou dos sinais transmitidos pelos menores.
Pode dar-se o caso de o menor estar a mentir, mas deve-se, mesmo assim, levar a sério, enquanto se investiga se as suas acusações têm razão de ser. Porque, se têm mesmo, e a criança ficar com a impressão de que não acreditamos nela, os estragos podem ser irreparáveis. Quando é verdade, a criança só chega ao ponto de confiar em alguém, depois de sofrer muito e lutando consigo mesma. São situações muito complicadas...
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