A
Alemanha tinha calculado receber 750.000 refugiados, durante este ano, mas, na
verdade, já passaram de um milhão. Só no mês de Setembro entraram 200.000. Por
isso, entristece-me que, em Portugal, muita gente seja contra o acolhimento de
cerca de 5.000. Claro que a Alemanha tem melhor situação económica, mas também
há pobreza neste país. E não acho que o facto de haver gente com necessidades,
dentro das fronteiras, seja motivo para recusar ajuda a quem dela precisa. Como
se sentiriam esses portugueses se, em caso de guerra, tivessem de fugir com os
seus filhos, procurando abrigo noutra terra e lhes fechassem as fronteiras com
o pretexto: temos aqui muitos problemas! Ou: quem nos diz que no meio de vocês
não se encontram terroristas?
Muita
dessa gente que se declara contra é a mesma que culpa a Europa pelas mortes dos
migrantes no Mediterrâneo. Gritam indignados que já não há humanismo… E onde
está o seu humanismo, neste caso? Somos um país com tradições migrantes, muitos
dos nossos compatriotas viveram ilegais, no estrangeiro. São considerados com
admiração. Mas o que vale para uns deve valer para outros. Se fechar as fronteiras
a portugueses é um escândalo, fechá-las a outros povos não pode ser aceitável, muito
menos recomendável!
A
política de aceitação de refugiados da Merkel deixa muita gente descontente, a
chanceler debate-se com bastante oposição, alguma vinda do seu próprio partido.
E todos sabemos que na Alemanha há neonazis e xenofobia – aliás, como em todo o
lado. No entanto, a sociedade civil tem-se mobilizado, a fim de apoiar os
refugiados e de neutralizar a ação da extrema-direita.
A
campanha Refugees welcome traduz-se
em várias iniciativas. Nos estádios de futebol exibem-se cartazes. E muita
gente resolve dar horas de trabalho de graça, depois de sair do emprego, indo
para centros de acolhimento receber as pessoas e distribuir bens de primeira
necessidade até altas horas da noite.
Na
estação de rádio que costumo ouvir, qualquer ouvinte pode enviar uma mensagem pelo
Whatsapp, inspirada no tema Refugees Welcome. De vez em quando,
interrompe-se a emissão, a fim de transmitir uma dessas mensagens, que vão
desde as pessoas que se expressam contra o racismo, passando pelas que contam o
que fizeram para ajudar, até aos próprios refugiados que, vivendo aqui há
alguns meses, já arranham um pouco de alemão e exprimem o seu agradecimento.
Gosto particularmente destas mensagens. Por vezes, são difíceis de perceber,
mas o que conta, neste caso, é promover a aproximação entre os povos.
Portugal
adora promover a sua língua. Não gostariam de ouvir sírios a arranhar o português,
expressando o seu agradecimento e elogiando o nosso país e os portugueses?
Penso que nesta, como noutras situações, perdemos, no fundo, uma boa
oportunidade de nos expandirmos e autopromovermos.
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