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Faz hoje 735 anos que Dom Dinis assinou o seu compromisso de casamento, em pleno cerco da vila de Vide. O rei cercara o irmão Afonso por este ter decidido construir muralhas em torno da vila e aumentar uma torre, sem lhe pedir autorização.
Os agentes de Dom Pedro III de Aragão, pai da noiva, eram Conrado Lanceote e Bertrando de Vila Franca. O Rei Lavrador fez doação à noiva por núpcias das vilas de Óbidos, Abrantes e Porto de Mós, doação que ficava assegurada pelas arras dos castelos de Vila Viçosa, Monforte, Sintra, Ourém, Feira, Gaia, Lanhoso, Nóbrega, Santo Estêvão de Chaves, Monforte de Rio Livre, Portel e Montalegre e mais dez mil libras.
Nesta altura, Dom Dinis e Dona Isabel, na verdade, já estavam casados, embora ainda não se conhecessem. O casamento ocorreu por procuração, a 11 de Fevereiro de 1281, no Paço Real de Barcelona. Os procuradores do rei que o representaram, por palavras de presente, na cerimónia de recebimento da noiva, foram os cavaleiros João Pires Velho e Vasco Pires e o clérigo Dom João Martins de Soalhães, futuro bispo de Lisboa.
Dona Isabel só deu entrada em Portugal cerca de ano e meio mais tarde, sendo as bodas do par real festejadas em Trancoso, a 26 de Junho de 1282.
A tradição diz-nos que Dom Dinis não apreciava os exageros caritativos da sua rainha. E que esta muito sofreu com os casos extra-conjugais do esposo. A este propósito, transcrevo um pequeno excerto do meu romance:
Num serão abafado e quente de Junho, vieram dizer-lhe que a rainha não viria aos seus aposentos, como por ele solicitado, pois preparava-se para ir ao hospital de Santo Elói. Dinis dirigiu-se furioso ao Paço da sua consorte, apanhando-a já de saída, envolta pela cabeça numa capa escura muito simples, de camponesa.
- Proíbo-vos de deixar o Paço!
Ela limitou-se a replicar, serena:
- Tenho os meus compromissos.
- Que adiareis, por uma vez! Hei mister de vos falar. Ou achais que os vossos enfermos são mais importantes do que el-rei?
- Não se trata de serem mais ou menos importantes. Trata-se de cuidar de quem precisa.
- Também eu hei mister de algo: de esclarecimentos! Dizei, que vos incomoda? Foi algo que disse ou… fiz?
Isabel fixou-o com os seus olhos perscrutadores. Dinis pensou ver naquele brilho uma certa acusação, algum ciúme, e convenceu-se de que ela realmente se vingava do que sucedera em Coimbra. Naquele momento, porém, em vez de se sentir culpado, empertigou-se. Quiçá fosse aquele jeito dela de desprezar tudo o que fosse mácula humana. O certo é que deu consigo a pensar que a ela lhe competia aceitar que ele tivesse as suas barregãs!
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